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O medo de deixar de ser amado leva à exigência de que o parceiro não tenha olhos para mais ninguém

Regina Navarro Lins

03/09/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta, 38 anos, casado há 13, cuja mulher curtiu a foto de um homem no facebook. O grave para ele parece ser o fato de haver a seguinte legenda na foto: "Se todos os homens são iguais, por que eu não tenho um assim em casa?" Ele está se sentindo desmoralizado como homem e marido. O internauta acha que se fingir que nada aconteceu vai se sentir covarde.

Durante muito tempo os jovens se casavam atendendo às imposições familiares. Os interesses econômicos e políticos é que determinavam as escolhas.

Em meados do século 20, o amor romântico entrou no casamento. Esse tipo de amor não é apenas uma forma de amor, mas todo um conjunto psicológico – ideais, crenças, atitudes e expectativas. Essas ideias determinam como as pessoas devem sentir e reagir.

A questão é que muitas das crenças são equivocadas e geram sofrimento. Principalmente aquela que prega que o amado deve ser a única fonte de interesse do outro.

Em uma relação estável, geralmente, as cobranças de exclusividade são constantes e as pessoas aceitam isso naturalmente. A vigilância sobre o parceiro é pesada. O medo de deixar de ser amado leva à exigência de que o parceiro não tenha olhos para mais ninguém.

Na maioria dos casamentos, homens e mulheres vivem dentro de regras e normas estabelecidas para controlar a liberdade de cada um. Há até quem aceite ser controlado desde que isso seja um bom motivo para controlar o outro.

Na realidade, sentir tesão por alguém que não seja o parceiro fixo, todos sentem. Viver ou não uma experiência sexual com essa pessoa, depende da visão que cada um tem do amor e do sexo.

Não é tão simples viver uma relação amorosa saudável, que contribua para o próprio crescimento emocional. É necessário aprender primeiro a lidar de outra forma com as questões da vida.

Você pode amar muito uma pessoa, estar namorando ou casado com ela, e ao mesmo tempo não ter dúvida de que é mais do que natural sentir desejo por outras pessoas.

Acredito que em um bom casamento precisa haver liberdade. E concordo com a psicóloga belga Esther Perel, quando diz:

"Na verdade, você nunca possui o seu parceiro. É apenas um "empréstimo", com a possibilidade de ser sempre renovado. Entretanto, é muito difícil tolerar essa ansiedade. Quando você ama, vive com o medo do amor. É uma forma existencial. A incerteza faz parte do amor, mas o fato é que nós não gostamos da ideia de que é necessário um mínimo de imprevisibilidade. Apenas o bastante para que exista um espaço para a novidade, a surpresa, o mistério."

No momento, assistimos a grandes transformações no mundo, e, no que diz respeito ao amor, o dilema atual se situa entre o desejo de simbiose – se fechar na relação com o parceiro – e o desejo de liberdade. E este parece que começa a predominar…

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Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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