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O sexo impessoal do machão

Regina Navarro Lins

06/09/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da mulher que foi para o motel com um homem que, além de fazer poses na frente do espelho, ficou admirando a camisinha com seu esperma, ignorando a parceira.

Homens e mulheres foram inibidos na sua capacidade para o prazer sexual. As mulheres tiveram sua sexualidade reprimida e distorcida, a ponto de até hoje muitas serem incapazes de se expressar sexualmente, muito menos atingir o orgasmo.

Os homens, por sua vez, também tiveram a sexualidade bloqueada. A preocupação em não perder a ereção é tanta que fazem um sexo apressado, com o único objetivo de ejacular. A mulher acaba se adaptando ao estilo imposto pelo homem, principalmente por temer desagradá-lo. Resultado? Nenhum dos dois usufrui do prazer que um bom sexo proporciona.

Desde pequenos os homens são desafiados a provar sua masculinidade. Nunca relaxar para sempre ser considerado macho gera angústia, além de sentimento de inferioridade entre eles. Na nossa sociedade, ser homem requer um esforço sobre-humano.

Ele é tão emotivo e sensível quanto a mulher, mas aprende que para ser macho não pode demonstrar emoções. Tem que ser agressivo, não ter medo de nada e, mais do que tudo, ser competente no sexo, ou seja, nunca falhar.

Como defesa contra a ansiedade que essas exigências provocam, e para encobrir o sentimento de inferioridade por não alcançar o ideal masculino, eis que surge o machão. Sempre alerta, seu objetivo é deixar claro que despreza as mulheres, os homossexuais e é superior aos outros homens. É difícil assim conseguir experimentar a intimidade emocional com a mulher, em vez de somente a sexual.

Estudos mostram que os homens que definem as relações humanas em termos de papéis rígidos "masculino-superior" e "feminino-inferior", assim como os que definem sua identidade masculina em termos de controle, violência e repressão dos afetos, apresentam, em muitos casos, um quadro de deterioração da sexualidade.

Na década de 1970, um estudo sobre extremistas políticos alemães da direita e da esquerda – inclusive membros do grupo terrorista alemão de esquerda Baaden- Meinhof –, constatou que esses homens apresentavam problemas de disfunção sexual, inclusive incapacidade de atingir o orgasmo.

Embora as mentalidades estejam mudando, muitos homens ainda perseguem o ideal masculino – força, sucesso, poder –, mas eles têm as mesmas necessidades psicológicas das mulheres: amar e ser amado, comunicar emoções e sentimentos. O processo de socialização que transforma os meninos em homens "machos" impede a espontaneidade na relação com as mulheres. É impossível ser amoroso quando se é "travado" emocionalmente.

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Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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