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O custo de não se aceitar gay

Regina Navarro Lins

09/08/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta que se recrimina por ser gay e vive recluso. E ele não está sozinho na sua dor. Afinal, homens e mulheres são educados para corresponder ao papel masculino e feminino que deles se espera. Desde crianças aprendem que mais tarde deverão se relacionar afetiva e sexualmente com o sexo oposto.

Geralmente é na adolescência que a orientação afetivo-sexual começa a ser percebida. É comum o adolescente se sentir diferente, não compartilhar dos mesmos interesses do grupo de amigos, mas não entender bem o que se passa com ele. Tenta negar a ideia de homossexualidade, pois sabe que isso não é aceito, que decepcionaria a família, os amigos e a si próprio.

Com esse conflito interno, ele confunde amizade, amor e desejo sexual. Aceitar-se como homossexual é para a maioria um processo difícil, cheio de dúvidas e medos. Não há com quem conversar e surge a sensação de que vai ser rejeitado e nunca compreendido.

O momento decisivo da vida de um homossexual parece ser o coming out, isto é, o primeiro ato sexual. Uma pesquisa americana revela que quanto mais tardio é o coming out, maior é o impacto sobre a personalidade do indivíduo. As tentativas de suicídio são, nesses casos, duas vezes mais frequentes do que na população da mesma faixa etária.

Numa pesquisa alemã, 35% dos entrevistados declararam que, naquele momento crucial, tiveram vontade de se "tratar". Entretanto, uma vez dobrado o cabo do coming out, o índice de suicídios entre a população homossexual seria extremamente baixo.

A homossexualidade já foi considerada pecado e crime. A partir do século 19, foi vista como doença a ser tratada. Mas essa ideia perdeu força quando, em 1973, a Associação Médica Americana retirou a homossexualidade da categoria de doença.

Apesar disso, relacionamento entre pessoas do mesmo sexo continua provocando preconceito e ódio em muito machões, provavelmente inseguros quanto à própria orientação sexual. Uma pesquisa sobre violência no estado de Nova York, EUA, concluiu que, entre todos os grupos minoritários, os homossexuais são objeto de maior hostilidade. Além dos insultos habituais, os ataques físicos são mais do que comuns.

Para o jornalista e escritor inglês, radicado nos Estados Unidos, Andrew Sullivan, autor do livro Virtually Normal (Praticamente normal) "a experiência homossexual pode ser considerada uma doença, uma perturbação, um privilégio ou uma maldição; pode ser considerada digna de "cura", retificada, abraçada ou suportada. Mas ela existe. E ocorre independentemente de suas formas de expressão; está inserida naquela área misteriosa e instável onde o desejo sexual e o anseio emocional se encontram; atinge o cerne do que faz um ser humano ser aquilo que ele ou ela é. A verdade é que, para a esmagadora maioria dos adultos, a condição homossexual é tão involuntária quanto o é para os heterossexuais".

O internauta, que nos relata seu desespero, introjetou de tal forma os valores da sociedade em relação à homossexualidade, que se transformou num homofóbico, tornando-se o mais cruel algoz de si mesmo.

Há algum tempo perguntei a Luiz Mott, antropólogo e um dos mais conhecidos ativistas brasileiros em favor dos direitos civis LGBT, o que os homossexuais podem fazer para viver melhor numa sociedade tão preconceituosa.

"Estar tranquilo com sua própria homossexualidade; procurar assumir-se nos ambientes onde não correm riscos de discriminação; desenvolver sua consciência homossexual, adquirindo o máximo de informações sobre a cultura homossexual e como enfrentar a homofobia; selar alianças com simpatizantes e outras minorias discriminadas; ter a convicção de que nós é que estamos certos e que os homofóbicos terão de aceitar um dia que homossexualidade é tão saudável e legítima como a heterossexualidade.", disse ele.

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Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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