O machão diante delas
Regina Navarro Lins
24/06/2014 07h00
Comentando a Pergunta da Semana
A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana acredita que as mulheres se sentem atraídas pelos machões. Tenho sérias dúvidas se ainda é dessa forma. É possível que esse resultado se deva ao fato da visão que durante tanto tempo se teve da mulher, e na qual ela também acreditou, era assim: frágil, desamparada, necessitando desesperadamente encontrar um homem que lhe desse amor e proteção e, mais do que tudo, que desse um significado à sua vida. Se a pesquisa fosse respondida somente pelas mulheres o resultado poderia ser outro.
A partir do final dos anos 60 as mentalidades começaram a mudar. As mulheres lutaram para se libertar do modelo de comportamento que lhes foi imposto. O homem machão então foi aos poucos perdendo o prestígio. Ainda bem. Isso é bom para a mulher e principalmente para ele próprio. Afinal, os homens estão esgotados, exaustos de serem cobrados a corresponder a um ideal masculino inatingível — força, sucesso, poder.
Desde pequenos eles são desafiados a provar sua masculinidade. Nunca relaxar para sempre ser considerado macho gera ansiedade e provoca um sentimento de inferioridade entre eles. Na nossa sociedade, ser homem requer um esforço sobre-humano. Ele é tão emotivo e sensível quanto a mulher, mas aprende que para ser macho não pode chorar. Tem que ser agressivo, não ter medo de nada e, mais do que tudo, ser competente no sexo, ou seja, nunca falhar.
Como defesa contra a ansiedade que essas exigências provocam, e para encobrir o sentimento de inferioridade por não alcançar o ideal masculino, eis que surge o machão. Sempre alerta, seu objetivo é deixar claro que despreza as mulheres, os homossexuais e é superior aos outros homens.
Até o movimento de emancipação feminina, há 40 anos, o machão ainda agradava às mulheres. Os papéis sociais, masculino e feminino, eram claramente definidos. As mulheres se conformavam em apenas expressar características de personalidade que lhes eram atribuídas.
Ocultando quaisquer outras que estivessem ligadas à coragem, força e decisão, elas se mutilavam. Sabiam que seriam repudiadas. Assim, valorizavam homens também mutilados, isto é, os que só expressavam uma parte de si: agressividade, coragem, desafio…
Acontece que, a partir daí, as mulheres passaram a se sentir no direito de ser mostrar por inteiro. Podiam ser fracas, mas também fortes, dóceis e agressivas, indecisas e decididas, medrosas e corajosas, dependendo do momento e das circunstâncias. O caminho natural foi desejar se relacionar com homens que pudessem ser inteiros também, que assim como elas não mais precisassem reprimir vários aspectos da personalidade.
O machão está perdendo seu lugar. Quanto mais a mulher é autônoma e
livre de estereótipos mais valoriza o homem sensível, que não se sente diminuído por ficar triste ou chorar, que fale dos seus sentimentos e aceite seus próprios fracassos.
No que diz respeito à sexualidade, isso é evidente. A mulher gosta cada vez mais dos homens que não têm vergonha quando falha a ereção e que vão para o ato sexual não para cumprir a missão de macho, mas para trocar com ela todos os prazeres que o sexo pode proporcionar.
Sobre a autora
Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.
Sobre o blog
A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.