O sexo culpado
Regina Navarro Lins
19/10/2013 10h02
Comentando o "Se eu fosse você"
A questão da semana é o caso do internauta que ficou viúvo, transou com a vizinha que o assediou e se sente culpado. Imagina estar traindo a esposa falecida.
Dizem que quando um homem de mais de 60 anos fica viúvo, o enterro de sua esposa é concorridíssimo. Mulheres viúvas, separadas ou solteiras tentam chegar primeiro para consolá-lo e quem sabe, a partir daí, iniciar um romance. Nem é necessário conhecê-lo bem. Basta ser o primo da cunhada da vizinha, que já é suficiente.
Várias pessoas me juraram que esta história é verdadeira e que acontece com certa frequência. Pode até ser, não sei. Mas, na realidade, pesquisas mostram que o período máximo que um viúvo fica sozinho não passa de um ano. E isso ocorre porque é muito maior o número de mulheres disponíveis para o casamento do que o de homens, na medida em que elas são mais atingidas pela viuvez. A mulher, além de viver mais, até algum tempo atrás só se casava com homens bem mais velhos.
Entretanto, observamos que os sentimentos de vergonha e culpa, tão presentes na nossa cultura, fazem com que quase todos se recriminem por suas atividades sexuais ou mesmo por seus desejos, como se não fossem algo humano. No mundo ocidental, o corpo é impuro de nascença, visto como inimigo do espírito.
Aprendemos a nos sentir envergonhados e culpados por ele, principalmente pelos órgãos sexuais e suas funções. E mesmo quando se consegue rejeitar conscientemente todo esse moralismo, a mensagem negativa é absorvida sem que se perceba. E o sexo sendo visto como algo tão perigoso leva a maioria a renunciar à própria sexualidade, ficando quieta no seu canto.
Muitos homens e mulheres que se casaram antes da liberação dos anos 70 carregam pela vida uma moral sexual rígida e repressora. Foram criados com uma visão do sexo bem diferente da que se tem hoje, e havia pouco espaço para o prazer. Contudo, quem está com mais de 60 anos e conseguiu se livrar dos antigos preconceitos, passando a aceitar o sexo como importante e natural, esbarra agora em outro obstáculo social.
É a crença tão difundida socialmente de que na velhice as pessoas são assexuadas, como se sexo e juventude fossem sinônimos. Assim, o homem estaria condenado à impotência e a mulher, depois da menopausa, não se interessaria mais pelo assunto. Mas nada disso é verdade. Apesar de toda a transformação fisiológica que ocorre com o envelhecimento não existe limite para o exercício da sexualidade e, sem dúvida, homens e mulheres podem ter muito prazer sexual até o fim da vida.
Sobre a autora
Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.
Sobre o blog
A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.