Topo

Quem são os homofóbicos?

Regina Navarro Lins

01/10/2013 08h15

Ilustração: Lumi Mae

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana acredita não ser fácil ser homossexual. E como era esperado, houve comentários homofóbicos. Entretanto, a homossexualidade não foi sempre alvo de ataques.

Na Grécia, século 5 a.C., a efebia – o amor por um jovem – aperfeiçoava o caráter tanto do amante como do amado. O Batalhão Sagrado de Tebas, tropa de choque composto inteiramente de casais homossexuais, ilustra bem a mentalidade da época. A efebia era associada ao sucesso na guerra. Em várias cidades gregas, todo recruta de bom caráter possuía um amante de idade madura.

O filósofo Platão comentou: "Um punhado de amantes armados, lutando ombro a ombro, pode conter todo um exército. Isso porque seria intolerável para o amante seu amado vê-lo desertando das fileiras ou atirando longe suas armas. Ele preferia mil vezes morrer, a ser tão humilhado… Em tais ocasiões, o pior dos covardes seria inspirado pelo deus do amor, a fim de provar-se igual a qualquer homem naturalmente bravo."

Quanto às mulheres gregas, que só se relacionavam com outras mulheres, não é estranho supor que muitas tenham encontrado afeto e prazer sexual com elas. Entretanto, nada se sabe a respeito. Só temos informações de época anterior, século 7 a.C.. Safo, viveu na ilha de Lesbos e dirigia uma escola onde mulheres aprendiam música, poesia e dança. Ela se apaixonou por algumas delas e manifestou o seu amor em poemas sensuais.

Nos séculos 12 e 13, começou na Europa uma repressão maciça da homossexualidade, como parte de uma campanha contra heresias de toda natureza, que evoluiu até o terror da Inquisição. Por conta das perseguições, ela se tornou perigosa e clandestina.

No século 19, a atividade homossexual deixou de ser classificada como pecado e passou a ser considerada doença. O tabu contra ela só diminuiu com o surgimento dos anticoncepcionais, na década de 1960. A dissociação entre o ato sexual e a reprodução, possibilitou aos homossexuais sair da clandestinidade, na medida em que as práticas homo e hétero, ambas visando ao prazer, se aproximaram.

Apesar de, hoje, a homossexualidade não ser mais considerada doença provoca preconceito e ódio. A discriminação continua, sendo os gays hostilizados e agredidos. Uma pesquisa sobre violência no estado de Nova York, EUA, concluiu que, entre todos os grupos minoritários, os homossexuais são objeto de maior hostilidade. Além dos insultos habituais, os ataques físicos são comuns.

A homofobia deriva de um tipo de pensamento que equipara diferença à inferioridade. E quem são os homofóbicos? Alguns estudos indicam que são pessoas conservadoras, rígidas, favoráveis à manutenção dos papéis sexuais tradicionais.

Quando se considera, por exemplo, que um homem homossexual não é homem, fica clara a tentativa de preservação dos estereótipos masculinos e femininos, típicos das sociedades de dominação que temem a igualdade entre os sexos.

A homofobia reforça a frágil heterossexualidade de muitos homens. Ela é, então, um mecanismo de defesa psíquica, uma estratégia para evitar o reconhecimento de uma parte inaceitável de si.

Dirigir a própria agressividade contra os homossexuais é um modo de exteriorizar o conflito e torná-lo suportável. E pode ter também uma função social: um heterossexual exprime seus preconceitos contra os gays para ganhar a aprovação dos outros e assim aumentar a confiança em si mesmo.

Por mais que se denuncie o absurdo que o ódio e a frequente agressão aos gays representam, a homofobia não deixará de existir num passe de mágica. Seu fim depende da queda dos valores patriarcais que, já em curso, vem trazendo nova reflexão sobre o amor e a sexualidade.

Caminhamos para uma sociedade de parceria, e se nela o desejo de adquirir poder sobre os outros não for preponderante, a homossexualidade deixará de ser tratada como anomalia, passando a ser vista pelo que realmente é: tão normal quanto a heterossexualidade.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Quem são os homofóbicos? - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

Mais Posts