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Regina Navarro Lins

Necessidade de provar que é macho pode fazer homem não ter ereção

Regina Navarro Lins

28/11/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta de 40 anos, casado há 12, que está desesperado porque desde março deste ano não consegue mais ter ereção. Acredita que seu casamento está indo embora por conta disso.

O que mais ameaça o homem no sexo é, sem dúvida, o medo de não obter ereção. Como muitos internautas sugeriram, quando esse é um fato que se repete e não apenas um episódio, o homem deve procurar ajuda especializada.

O medo de aceitar a falta de ereção, a dificuldade de contar isto para outra pessoa, a vergonha, fazem com que o homem demore em média quatro anos para buscar ajuda.

Para os padrões da civilização ocidental, o homem não pode falhar. O pênis é o centro da preocupação e orgulho do macho. O homem dedica-lhe mais afagos e zelo do que a qualquer outra parte do corpo. Protege-o acima de tudo.

Além disso, é gratificante poder se orgulhar do próprio pênis: seu tamanho, forma, qualidade e desempenho. Assim, tudo o que corrói esse orgulho corrói o próprio homem. Para ele, o pênis é de suprema importância. Nada que o afeta deixa de afetar o homem na mesma proporção, e vice-versa.

Na maioria das vezes a preocupação primeira quando se dirige ao ato sexual é confirmar que é "macho". E quanto melhor a ereção, mais macho ele se sente. A ereção é então o centro de gravidade do seu ser.

A nossa sociedade patriarcal associa equivocadamente virilidade com ereção do pênis, além de impor ao homem estar sempre pronto para o sexo.

Geralmente, quando falha a ereção, o homem não quer conversar com a parceira. Muitas vezes a mulher deseja encarar o fato com naturalidade e recomeçar as carícias amorosas. Mas o homem, não. Ele quer curar-se sozinho. O pavor de novo fracasso pode criar um círculo vicioso.

Se um homem fica ansioso durante o ato sexual, são liberadas substâncias como a adrenalina, afetando o funcionamento do seu sistema nervoso autônomo. Isso leva à contração dos vasos sanguíneos, impedindo o fluxo de sangue para o pênis, o que torna difícil obter ou manter a ereção.

A preocupação com o desempenho acaba, então, ocasionando a impotência ou até mesmo fazendo o homem desistir antes do tempo, antecipando essa possibilidade.

As dificuldades de ereção podem ocorrer em homens de todas as idades. Pelo menos a metade da população masculina já experimentou episódios ocasionais e transitórios e considera-se que estejam dentro dos limites do comportamento sexual normal.

A disfunção erétil pode ser devida a fatores físicos ou psicológicos. O mecanismo de reflexo vascular deixa de bombear sangue suficiente nos corpos cavernosos do pênis para torná-lo firme e ereto.

Há homens que, embora capazes de sentirem-se estimulados e excitados numa situação sexual e quererem fazer sexo, não ficam com o pênis ereto. Como os reflexos eréteis e ejaculatórios são dissociáveis, alguns homens com esse problema são capazes de ejacular, apesar do seu pênis flácido.

Entretanto, grande parte dos casos de disfunção erétil deixará de existir quando o homem se libertar da obrigação de provar que é macho. Partir para o ato sexual apenas quando existir desejo real pela parceira e não se preocupar com a ereção são pré-requisitos fundamentais.

Aí talvez seja possível experimentar o sexo com liberdade, simplesmente para obter e proporcionar prazer, longe de qualquer tipo de ansiedade.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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