Abstinência como política: por que achamos que sexo é sujo e perigoso?
A ministra Damares Alves incentiva a abstinência sexual como política pública para combater a gravidez precoce e a transmissão de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Poderia parecer uma medida necessária para proteger os jovens. Mas será que por trás disso não se está reforçando a ideia nociva de que o sexo é algo sujo e perigoso?
A partir do Cristianismo, as pessoas passaram a acreditar na danação eterna por conta dos desejos sexuais. O grande movimento de fuga para o deserto vai em busca da pureza sexual. No final do século IV, somente no Egito, pelo menos 22 mil homens e mulheres haviam se afastado de suas comunidades a fim de ter vida monástica e ascética no deserto que se estendia ao longo do Nilo, mortificando o corpo para se livrar da tal danação.
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Durante vários séculos, o casamento continente, ou seja, casamento sem relação sexual alguma, foi louvado como sendo a mais elevada forma de união entre homem e mulher. Essa forma de casamento existiu com bastante frequência, e chegou a ser falada a ponto de se transformar em obsessão. Sabendo disso, não fica difícil entender por que no século 21 tanta gente sofra com seus desejos, fantasias, medos e culpas.
Até o início do século 20, as moças iniciavam a vida sexual por volta dos 13, 14 anos ou até antes. Por questões econômicas ou de sobrevivência, geralmente por imposição da família, se casavam cedo e o objetivo do sexo era apenas gerar filhos. O prazer praticamente só existia para o homem. Por ser desnecessário à procriação, para a mulher não era nem cogitado. Ao contrário, a dor e o sofrimento faziam parte do sexo.
Na década de 1960, com o advento da pílula anticoncepcional, pela primeira vez na história da humanidade o sexo foi dissociado da procriação e passou a se relacionar intimamente com o prazer.
A profunda modificação fisiológica que ocorre na puberdade, com o aumento da produção de androgênios e estrogênios, prepara o corpo para a reprodução, intensificando o desejo sexual no homem e na mulher. A busca da satisfação é o caminho natural. Entretanto, o controle sobre o prazer continua a ser exercido.
A doutrina de que há no sexo algo pecaminoso é totalmente inadequada, causando sofrimentos que se iniciam na infância e continuam pela vida afora. O filósofo inglês Bertrand Russel diz em um dos seus livros: "Mantendo numa prisão o amor sexual, a moral convencional concorreu para aprisionar todas as outras formas de sentimento amistoso, e para tornar os homens menos generosos, menos bondosos, mais arrogantes e mais cruéis."
O neuropsicólogo James W. Prescott, do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano, de Maryland, EUA, publicou em 1975 o resultado estatístico da análise de 400 sociedades pré-industriais e comprovou que aquelas culturas que dão muito afeto físico a seus filhos e não reprimem a atividade sexual de seus adolescentes são culturas pouco inclinadas à violência.
Ele afirma que uma personalidade orientada para o prazer raramente exibe condutas violentas ou agressivas e que uma personalidade violenta tem pouca capacidade para tolerar, experimentar ou gozar atividades sensualmente prazerosas.
Acredito que o jovem deve iniciar sua vida sexual quando desejar. Os pais e a sociedade devem cuidar para que isso ocorra da forma mais natural e prazerosa possível. A saúde mental e social das pessoas depende disso.
Certamente muitos casos de impotência, ejaculação precoce e ausência de orgasmo feminino seriam evitados, assim como diversos tipos de agressão sexual.
Só mais um detalhe: o uso da pílula e da camisinha deveria fazer parte da educação, como o ato de tomar banho e de escovar os dentes.
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