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Regina Navarro Lins

Olhar seu corpo nu: o que a história tem a dizer sobre nos vermos pelados

Universa

12/12/2019 04h00

O estudo do corpo humano e da sua percepção em épocas e lugares diferentes revela um importante elemento de simbolismo cultural que tem fortes implicações com a sexualidade. A antropóloga inglesa Mary Douglas, que analisou essas implicações, acredita que o corpo deve ser visto como metáfora da sociedade.

O culto do corpo da Antiguidade (4000 a.C. a 476 d.c) cede lugar, na Idade Média (séculos 5 ao 15), a uma derrocada do corpo na vida social. Para gregos e romanos, o nu masculino era considerado exemplo da perfeição humana. Essa visão mudou após o cristianismo.

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Um bom exemplo é o nu das obras de arte, que passou a causar constrangimentos. Antes de serem exibidas para o público, as estátuas tinham seus órgãos genitais tapados, ou o pênis quebrado com um martelinho especial. O Davi, de Michelangelo, antes de ser exibido em Florença em 1504, recebeu uma folha de figueira, só retirada em 1912. Qualquer cuidado com o corpo era visto como incentivo ao pecado.

No século 19, século do pudor, uma moça não podia se olhar nua no espelho nem mesmo ver seu corpo através dos reflexos da água da banheira. Havia produtos especiais para turvar a água do banho, de forma a impedir tal vergonha. As mulheres conheciam mal seus próprios corpos. Adoecer e ir ao médico era outro problema. Nem ele podia ver o corpo da paciente na consulta.

As mulheres passaram a descrever o local da dor apontando para um ponto semelhante numa boneca, de modo a não ter de fazer algum gesto considerado deselegante ou indelicado. Pior ainda era durante o parto. O médico trabalhava às cegas, as mãos sob um lençol, para não ver os órgãos genitais da mulher. A visão do corpo era vista como ameaça tão perigosa que em muitos lares as pernas de piano eram cobertas por capas pela sua "semelhança" com as pernas das mulheres.

A partir de 1860, na Belle Époque, há um recuo do pudor. O comportamento de homens e mulheres muda na medida que começam a se livrar a pesada repressão. A partir do século 20, o corpo foi objeto de cuidados e atenção como nunca havia sido anteriormente. As pessoas começam a exibir o corpo, que está presente no espaço visual, nas representações científicas e na mídia.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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