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Regina Navarro Lins

A repressão dos desejos pode ser mais prejudicial do que se imagina

Universa

18/01/2018 04h00

Caio Borges

Muito se fala sobre os perigos de uma relação extraconjugal. Nas redes sociais sempre há críticas a quem defende o direito de optar por relações não-monogâmicas. "Falta de caráter"; "Canalhice"; "Imaturidade". E o comentário estereotipado: "Se quer transar com outras pessoas, então, não se case!" Fico imaginando que ideia essas pessoas têm do casamento. Será que para elas casamento existe só para se viver a exclusividade sexual e nada mais?

Poucos falam dos efeitos nocivos da repressão dos desejos. Wilhelm Reich, importante pensador e psicanalista austríaco da primeira metade do século 20, analisa, em um dos seus livros, os prejuízos causados às pessoas envolvidas e à própria relação.

Para ele, quando o desejo por outros parceiros se tornam mais prementes, afetam a relação sexual existente no sentido de acelerar o enfraquecimento do desejo sexual pelo cônjuge. A relação sexual torna-se progressivamente um hábito e um dever. A diminuição do prazer obtido com o parceiro e o desejo de outros somam-se e reforçam-se mutuamente. Não é possível se evitar essa situação ou se iludir por meio de boas intenções ou de "técnicas amorosas".

Reich acredita que é nessa altura que se desenvolve sem cessar um ódio inconsciente contra o outro, pelo fato de ele impedir a satisfação, frustrar, os outros desejos sexuais. Em tal caso, não se tem qualquer razão pessoal e consciente para odiar, entretanto, sente-se nele, e mesmo no amor que por ele se tenha, um obstáculo, um peso.

Frequentemente, o ódio é compensado e camuflado por uma extrema afeição. Essa afeição reativa nascida do ódio e os sentimentos de culpa concomitantes são os componentes específicos de uma certa forma de ligação "pegajosa". Por isso, é tão frequente se ver pessoas, mesmo não casadas, que não são capazes de se separar, ainda que efetivamente já não tenham nada a se dizer e menos ainda a se dar, não sendo a relação entre elas mais do que uma tortura recíproca, prolongada e inútil.

"Incontáveis exemplos mostram que a fidelidade, calcada em valores morais, mina progressivamente uma relação, enquanto que, em contrapartida, numerosos outros exemplos demonstram claramente que uma relação ocasional com outro parceiro favorece a relação estável, que estava em vias de se deteriorar.", conclui Reich. E você….o que pensa disso?

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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