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Regina Navarro Lins

O assédio sexual deixou de ser uma agressão em que a mulher sofria sozinha

Regina Navarro Lins

07/12/2017 04h00

As denúncias de assédio sexual, ao contrário de outras épocas, não param de acontecer. O assédio está sempre ligado a uma relação de poder, por isso acontece tanto em ambiente de trabalho.

A violência sexual é a forma de violência que as mulheres têm mais dificuldade de falar e, no entanto, está muito presente. Ela abrange um espectro bastante amplo, que vai do assédio sexual à exploração sexual, passando pelo estupro conjugal. Um exemplo de assédio é quando o superior passa a assediar a funcionária, com a intenção clara de manter relações sexuais e, não tendo êxito em sua empreitada, a ameaça de demissão, conseguindo, por isso, a satisfação de seu desejo.

Durante muito temo ninguém deu importância ao assédio: o comportamento dos chefes era considerado normal e as mulheres tinham medo de denunciar. O assédio era naturalizado. Acreditava-se que era parte da natureza do homem.

Nunca havíamos assistido a denúncias de assédio contra homens poderosos. Graças aos movimentos feministas e a união das mulheres exigindo respeito e igualdade de direitos o assédio sexual deixou de ser uma agressão que se sofria sozinha. Até brincadeiras não são mais aceitas. Talvez isso tenha começado quando mais mulheres entraram no mercado de trabalho. Esse comportamento está sendo visto cada vez mais como inaceitável.

Algumas cidades tomaram medidas para evitar o assédio. Uma das mais originais foi criada na cidade do México: um "assento de pênis" para conscientizar homens sobre assédio sexual a mulheres nos vagões. Além do pênis, o lugar conta também com um peitoral, curvas e um umbigo. A campanha contra assédio tem como intuito ilustrar que todas as pessoas têm o direito de viajar em segurança no transporte público, sem que ninguém interfira nisso com comentários sexuais ou tentativas de assédio físico.

Um vídeo da campanha mostra homens desatentos sentando no assento especialmente reservado para eles. Eles só se levantam ao perceberem algo diferente, assustados e imediatamente desconfortáveis. No chão, em frente ao "assento de pênis", uma mensagem: "É desconfortável sentar aqui, mas não se compara com a violência sexual que mulheres sofrem todos os dias não se compara com à violência sexual que mulheres sofrem todos os dias de suas vidas". As imagens terminam revelando uma estatística impressionante: 9 em cada 10 mulheres na Cidade do México são vítimas de alguma forma de assédio sexual.

Talvez a única solução seja homens e mulheres se aliarem e romperem com essa mentalidade patriarcal, ou seja, machista, que oprime a ambos os sexos.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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