Amor em dose dupla
Comentando o "Se eu fosse você"
A questão da semana é o caso do internauta, casado há 16 anos, três filhos, que sempre teve relações extraconjugais. Mas este ano se envolveu com uma pessoa mais do que imaginava. A esposa descobriu e ele assumiu tudo. Mas continua se encontrando com a terceira pessoa. Ele diz amar as duas e pretende se abrir com a esposa e torce para que ela entenda.
Não há dúvida de que podemos amar várias pessoas ao mesmo tempo. Não só filhos, irmãos e amigos, mas também aqueles com quem mantemos relacionamentos afetivo-sexuais. E podemos amar com a mesma intensidade, do mesmo jeito ou diferente.
Acontece o tempo todo, mas ninguém gosta de admitir. Há a cobrança de rapidamente se fazer uma opção, descartar uma pessoa em benefício da outra, embora essa atitude costume vir acompanhada de muitas dúvidas e conflitos.
O professor de ciências sociais Elías Schweber, da Universidade Nacional Autônoma do México, afirma não existir nenhum tipo de evidência biológica ou antropológica na qual a monogamia é "natural" ou "normal" no comportamento dos seres humanos. Ao contrário, existe evidência suficiente na qual se demonstra que as pessoas tendem a ter múltiplos parceiros sexuais.
A psicóloga Noely Montes Moraes, autora de um livro sobre o tema, acredita que o conflito se instala porque sentimentos ignoram as contradições e as exigências de exclusividade do tipo "se amo uma pessoa, não posso amar outra". Quando o sentimento insiste em se instalar e permanecer, pode surgir a dúvida do que se sente pela pessoa com quem se mantinha o pacto de fidelidade.
"Buscar comodidade e segurança na vida amorosa como valor absoluto implica colocar-se à margem da vida, protegido por uma couraça. O resultado é a estagnação do fluxo vital e um empobrecimento de vivências. A pessoa assim defendida se torna superficial e um tanto pueril, quando não se torna também invejosa das pessoas que ousam dizer sim à vida, atacando-as com um moralismo rançoso.", diz ela.
Ao se deparar com essa possibilidade é comum se desmerecer um de seus polos: ou o estado amoroso nascente será considerado capricho, infantilidade, mero desejo sexual, loucura; ou o estado amoroso anterior será questionado: não era amor de verdade, o parceiro não supria as necessidades e assim por diante.
Poucos aceitam que o parceiro ame duas pessoas de uma hora para outra, isto é resultado de um longo processo de desenvolvimento pessoal que, por enquanto, não é nada fácil.
É necessária toda uma revisão de conceitos, de condicionamentos culturais e emocionais, para ver as coisas a partir de um outro paradigma. Concordo com o escritor Moacyr Scliar quando dizia:
"É possível amar duas pessoas ou muito mais. Não estou falando em diferentes tipos de amor (amor aos filhos, amor aos pais), estou falando no relacionamento habitual. Aquilo que buscamos, que nos atrai, pode estar em muitas pessoas. E cada uma delas será objeto do nosso amor."
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