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Regina Navarro Lins

Sexualidade sem rótulos - reflexões sobre a bissexualidade

Regina Navarro Lins

23/07/2016 08h45

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta que, recém divorciada, fez novas amizades que a levaram a um mundo não monogâmico. Ela está interessada em entender mais sobre a bissexualidade.

É antiga a discussão a respeito da bissexualidade. A revista americana Newsweek, de 27 de maio de 1974, trouxe uma matéria em que a cantora Joan Baez declarava que um dos maiores amores de sua vida havia sido uma mulher e que, após quatro anos de relacionamentos exclusivamente lésbicos, estava namorando um homem.

Dois psiquiatras com pontos de vista opostos são chamados a comentar o assunto. "A bissexualidade é um desastre para a cultura e a sociedade", proclamou um, enquanto o outro, presidente eleito da Associação Psiquiátrica Americana, anunciou: "Está chegando o ponto em que a heterossexualidade pode ser vista como uma inibição".

Na mesma semana a revista Time descreveu num artigo chamado "Os novos bissexuais", os triunfos e os fracassos desse fenômeno sexual, indo das biografias de atrizes e escritores consagrados ao surgimento de romances, memórias e filmes bissexuais.

Em 1975, a famosa antropóloga Margareth Mead declarou: "Acho que chegou o tempo em que devemos reconhecer a bissexualidade como uma forma normal de comportamento humano. É importante mudar atitudes tradicionais em relação à homossexualidade, mas realmente não deveremos conseguir retirar a carapaça de nossas crenças culturais sobre escolha sexual se não admitirmos a capacidade bem documentada (atestada no correr dos tempos) de o ser humano amar pessoas de ambos os sexos."

Um bom exemplo disso ocorreu na Grécia, no século V a.C. A iniciação sexual de um jovem se dava com o seu tutor. E os cidadãos gregos respeitáveis tinham mulher e filhos, embora as relações sexuais não fossem somente com a esposa. Havia as concubinas, as cortesãs e os efebos (jovens rapazes).

Três erros comuns impregnaram o pensamento sobre a bissexualidade: que ela significa atração simultânea por homens e mulheres; que ela significa atração igual por homens e mulheres; e que ela significa atividade sexual com homens e mulheres. Enquanto essas suposições podem ser verdadeiras para alguns bissexuais, para outros, não. Há bissexuais que são atraídos por sexos diferentes em fases diferentes da vida; atraído de forma mais forte por um dos sexos; sexualmente ativo com apenas um, ou nenhum, sexo.

Marjorie Garber, professora da Universidade de Harvard, que elaborou um profundo estudo sobre o tema, conta que um professor de prestigiada Universidade da Califórnia diz que seu "radar" se mostrou completamente ineficaz durante todo o semestre: um dos rapazes mais simpáticos para com a questão gay e mais à vontade em sala acabou se revelando hétero, criado pela mãe, que algumas vezes era lésbica. Um dos garanhões óbvios estava namorando um cara que anteriormente namorava outro, que preferia se vestir de mulher. Ele questiona se a divisão entre hétero e homo é uma barreira tão grande na geração atual.

E ela pergunta: "Por que, em vez de hétero, homo, auto, pan e bissexualidade, não dizemos simplesmente 'sexualidade'? E será que a bissexualidade não tem algo fundamental a nos ensinar sobre a natureza do erotismo humano?"

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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