Regina Navarro https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 11 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller 'A Cama na Varanda' e 'O Livro do Amor'. Sun, 05 Jul 2020 07:00:30 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 “Estamos casados há oito meses, mas acho que a paixão acabou” https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/07/05/estamos-casados-ha-oito-meses-mas-acho-que-a-paixao-acabou/ https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/07/05/estamos-casados-ha-oito-meses-mas-acho-que-a-paixao-acabou/#respond Sun, 05 Jul 2020 07:00:30 +0000 https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/?p=9719

Ilustração: Caio Borges/UOL

 “Estou casada há oito meses, mas nossa vida em comum está difícil. Namoramos durante um ano, cada um na sua cidade. Eu era completamente apaixonada por ele. Só nos encontrávamos um final de semana por mês, e era ótimo. Agora, vejo como ele é autoritário e preconceituoso. Odeio a forma prepotente como ele trata os empregados do prédio e a moça que trabalha na nossa casa. Não suporto seus comentários sobre meus amigos. Acho que minha paixão acabou. Não sinto mais prazer em estarmos juntos….”
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O amor romântico, pelo qual todos anseiam na nossa cultura desde meados do século 20, é calcado na idealização. Você atribui ao outro características e personalidade que ele não possui. O problema é que na convivência é impossível manter a idealização e surge, então, o desencanto. Nessa quebra de encanto, começamos a perceber que a pessoa amada e as projeções colocadas nela são realidades distintas.

Para o psicanalista americano Robert Johnson a convivência torna evidentes as diversas características de personalidade da outra pessoa. Seu jeito de ser e de pensar, como também sua generosidade ou seu egoísmo, sua coragem ou suas inseguranças, por exemplo. Alguns aspectos nos causam admiração, outros repúdio, mas de qualquer forma não conseguimos mais perceber o outro tão maravilhoso e idealizado como no início da relação. As nossas projeções sofrem a interferência da realidade. O que uma pessoa projeta na outra são partes de si própria, desconhecidas potencialidades que nunca tocou e nunca conheceu porque sempre tentou vivê-las através do outro.

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As características do amor romântico são inconfundíveis. O êxtase e a agonia que nos causam tornam a vida emocionante, nos dando essa sensação de transcendência. Para se manter nesse estado de plenitude, homens e mulheres exigem coisas impossíveis de seus relacionamentos: nós realmente acreditamos inconscientemente que o outro tem a obrigação de nos manter sempre felizes, de tornar nossa vida significativa, vibrante, plena de encanto. Mas, quando nos desapaixonamos, o mundo instantaneamente parece desolado e vazio apesar de, em alguns casos, continuarmos ao lado da mesma pessoa que antes nos propiciava tanta felicidade.

O amor é uma construção social; em cada período da história se apresenta de uma forma. O amor romântico está dando sinais de sair de cena. Os anseios contemporâneos são em busca da individualidade, e esse tipo de amor prega o oposto, a fusão entre duas pessoas. Acredito que cada vez mais mulheres e homens desejam desaprender e reaprender a amar.

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O machismo prejudica o homem até em meio a uma pandemia https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/07/04/o-machismo-prejudica-o-homem-ate-em-meio-a-uma-pandemia/ https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/07/04/o-machismo-prejudica-o-homem-ate-em-meio-a-uma-pandemia/#respond Sat, 04 Jul 2020 07:00:33 +0000 https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/?p=9712

Imagem: Getty Images

Muita gente resiste ao uso da máscara para evitar a contaminação pela Covid-19. Pesquisa da Universidade de Middlesex, no Reino Unido, e do Instituto de Pesquisa em Ciências Matemáticas, nos EUA, concluiu que questões de gênero estão ligadas ao menor uso de máscaras — homens resistem mais a se proteger dessa forma. Eles acreditam que não serão tão afetados quanto às mulheres, e caso sejam contaminados, preveem se recuperar rapidamente, o que não corresponde à realidade.

Essa atitude não causa espanto se levarmos em conta a forma como os homens são educados em uma cultura patriarcal. Logo que um bebê nasce, os pais e as pessoas que o cercam começam a ensinar-lhe através de gestos, do jeito de falar, da escolha de brinquedos e roupas, o papel social que ele deverá desempenhar: feminino ou masculino. O clássico “homem não chora” é um bom exemplo do que os meninos ouvem. Essa ideologia de gênero — sim, porque isso é que é ideologia de gênero — continua pela vida afora. Os homens são sempre desafiados a provar sua masculinidade.

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Sem dúvida existe uma diferença nítida nas atitudes sociais dos homens e das mulheres e é fácil, então, concluir que são realmente diferentes. Na realidade, a natureza só traz a diferença anatômica e a fisiológica, tudo mais é produto de cada cultura. Há algum tempo, a propaganda dos cigarros Marlboro ilustrou de forma perfeita o que povoava a imaginação das pessoas.

A filósofa francesa Elisabeth Badinter descreve como seria esse homem: “O homem duro, solitário porque não precisa de ninguém, impassível, viril a toda prova. Todos os homens, em determinada época, sonharam ser assim: uma besta sexual com as mulheres, mas que não se liga a nenhuma delas; um ser que só encontra seus congêneres masculinos na competição, na guerra ou no esporte. Em suma, o mais duro dos duros, um mutilado de afeto.”

Na vida real, homens e mulheres podem ser fortes e fracos, corajosos e medrosos, agressivos e dóceis, passivos e ativos, dependendo das circunstâncias e das características de personalidade que predominam em cada um, independentemente do sexo. O machismo não prejudica somente às mulheres. Corresponder ao ideal masculino da sociedade patriarcal — força, poder, sucesso, nunca falhar — não é nada fácil.

Mesmo no meio de uma pandemia, em que todos os esforços devem ser feitos para evitar a contaminação, muitos se arriscam desde que continuem a corresponder ao que essa masculinidade tóxica definiu como o papel do “homem de verdade”.

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Mesmo desnecessário, casamento pode ser ótimo. É só reformular expectativas https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/07/02/mesmo-desnecessario-casamento-pode-ser-otimo-e-so-reformular-expectativas/ https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/07/02/mesmo-desnecessario-casamento-pode-ser-otimo-e-so-reformular-expectativas/#respond Thu, 02 Jul 2020 07:00:45 +0000 https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/?p=9708

Ilustração: Caio Borges/UOL

 

A vida a dois numa relação estável fechada, como o modelo de casamento que aprendemos a desejar, torna-se cada vez mais difícil de suportar diante das transformações e apelos da sociedade atual. A família não é mais necessária para a sobrevivência da espécie nem o casamento é um vínculo divino, uma aliança entre duas famílias ou uma união econômica, que durante tanto tempo justificaram a sua existência.

O que ele proporciona hoje é um modo de vida repressivo e insatisfatório.  Muitos discordam dessa ideia alegando que o casamento deve ser conservado por causa da felicidade que pode proporcionar. Mas o problema não consiste em saber se o casamento encerra uma potencialidade de felicidade, mas sim se a realiza. Não, para a maioria não realiza, e todos sabem disso.

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Freud dizia existirem duas formas de o ser humano buscar a felicidade: visando a evitar a dor e o desprazer ou a experimentar fortes sensações de prazer. Na nossa cultura, em que o sofrimento é visto como virtude, não é de se estranhar que a grande maioria das pessoas não ouse tentar viver de uma forma realmente prazerosa. A submissão aos padrões sociais estabelecidos é aceita, para evitar o desprazer da tensão empregada na construção de uma existência autônoma.

Num processo de crescimento emocional, é necessário se aprender a lidar com a falta, o desamparo inevitável da condição humana e, percebendo as próprias singularidades, buscar uma convivência harmônica consigo próprio. Para muitos parece uma meta impossível. Estimulados pelas promessas equivocadas do amor romântico, depositam na relação com o outro todas as expectativas de proteção e segurança afetiva.

Acredito que um casamento, apesar de não ser mais necessário, pode ser ótimo. Mas para isso as pessoas precisam reformular as expectativas que alimentam a respeito da vida a dois, como, por exemplo, a ideia de que os dois vão se transformar num só; a crença de que um terá todas as suas necessidades atendidas pelo outro; não poder ter nenhum interesse em que o amado não faça parte.

É fundamental que haja respeito total ao outro, ao seu jeito de ser e de pensar, às suas escolhas; liberdade de ir e vir, ter amigos em separado e programas independentes e, o mais importante, não haver controle algum da vida do outro.  Caso contrário, a maioria das relações, com o tempo, se torna sufocante.

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“Ao lado da cama dela eu vi algemas, chicote e máscara. Saí correndo” https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/29/ao-lado-da-cama-dela-havia-vi-algemas-chicote-e-mascara-sai-correndo/ https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/29/ao-lado-da-cama-dela-havia-vi-algemas-chicote-e-mascara-sai-correndo/#respond Mon, 29 Jun 2020 07:00:53 +0000 https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/?p=9699

Ilustração: Caio Borges/UOL

“Estamos sujeitos a surpresas desagradáveis em novos relacionamentos, mas algumas são especialmente surpreendentes. Conheci uma mulher muito atraente, e, após o segundo encontro, ela me convidou para ir  à casa dela. Adorei o convite, e fomos. Depois de alguns beijos seguimos para o quarto, e ela entrou no banheiro. Olhando em torno vi um suporte, ao lado da cama, com chapéus e alguns objetos estranhos pendurados: um par de algemas, um chicote e uma máscara. Isso me assustou. Calcei os sapatos e fingi que tinha recebido uma mensagem para resolver um problema familiar sério e saí correndo.” 

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 De nada adiantou o austríaco Leopold von Sacher-Masoch ficar indignado. Não teve jeito: de famoso escritor e amante inventivo, seu nome foi mesmo rebaixado ao nível de patologia sexual. No livro Vênus das Peles, seu maior sucesso, ele descreve sua fantasia de ser dominado e chicoteado por uma mulher vestida apenas com um casaco de pele.

No final do século 19, esses atos foram classificados como perversão da vida sexual, o “masoquismo”. As práticas sexuais usadas por aqueles que sentem prazer em dominar ou em infligir ao outro dor física ou emocional receberam o nome de sadismo devido aos romances do Marquês de Sade, escritos um século antes.

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Não vamos falar aqui sobre o sadismo e o masoquismo que buscam sofrimento. O estereótipo do sádico como criminoso brutal se aplica a uma minoria. Na realidade, a grande parcela procura de chicotes, algemas, correntes, assim como de suítes com jaulas em motel, grades de ferros e vários outros apetrechos, visa a aumentar o prazer sexual sem machucar.

A base do sadomasoquismo é o antagonismo entre domínio e submissão, poder e desamparo. É uma prática sexual tão comum que o psicanalista inglês Anthony Storr pergunta se haverá por acaso algum casal de amantes que não tenha brincado de alguma versão do velho jogo em que um domina e o outro é subjugado, ou que não tenha atormentado um ao outro de brincadeira, fingindo dar um beijo e recuando? Em 1954, o pesquisador americano Alfred Kinsey já havia registrado que mais da metade de homens e mulheres reagiam eroticamente a mordidas. Não muito diferentes de vários animais.

Nesse tipo de sadomasoquismo há um consenso e uma negociação entre as partes, de forma que um dos parceiros pode interromper o jogo a qualquer momento. Apesar de o masoquismo ser mais associado às mulheres, devido ao treinamento de submissão e passividade que sempre receberam, vários estudos mostram a inversão dos papéis sociais no sexo.

Os prazeres masoquistas fazem parte das fantasias de homens e mulheres em proporções praticamente iguais, principalmente ser amarrado e subjugado durante as atividades sexuais. E uma pesquisa concluiu que ambos os sexos preferem que o outro seja o sádico. Nem Batman escapa. No filme em que Michelle Pfeiffer interpreta a Mulher-Gato, vestida de borracha colada à pele para lembrar uma dominadora, ele é amarrado por ela a uma cama. Os produtores cortaram a cena, mas as aulas que ela tem com um “mestre do chicote” continuaram.

Não há um consenso geral a respeito das causas do sadomasoquismo. Alguns, como a historiadora americana Riane Eisler, acreditam que, como a erotização da violência e da dominação foi central na construção social do sexo, a maioria de nós se excita, em graus variados, com essas fantasias.

Para outros essa prática sexual reedita sensações de prazer e poder relacionadas com conflitos do início da vida. Há ainda os que defendem a ideia de que, se dessa forma o prazer aumenta e não faz mal a ninguém, não é necessário explicações e deve-se aceitar com naturalidade. E você, o que pensa do sadomasoquismo?

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“Viva o poder gay”: como se deu a revolta de Stonewall, marco na luta LGBT https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/27/viva-o-poder-gay-como-se-deu-a-revolta-de-stonewall-que-marca-a-luta-lgbt/ https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/27/viva-o-poder-gay-como-se-deu-a-revolta-de-stonewall-que-marca-a-luta-lgbt/#respond Sat, 27 Jun 2020 07:00:33 +0000 https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/?p=9693

Bandeiras do orgulho LGBTQ+ em frente ao lendário bar The Stonewall, em Nova York (foto: iStock)

O Stonewall Inn, um bar em Nova York, precursor do movimento por direitos LGBTQ+ nos EUA, corre o risco de fechar por não ter como sobreviver sem funcionar durante a pandemia da Covid-19. O Stonewall é de grande importância histórica. Em 28 de Junho de 1969, um único momento definiu a causa gay.

Local de encontro de gays, lésbicas e travestis foi invadido pela polícia. Os bares gays dos EUA sofriam inspeções rotineiras. Os policiais prendiam os travestis mais provocantes e todos os que vestiam mais de três peças do sexo oposto. Não havia nada de especial na batida do Stonewall, a não ser que, pela primeira vez, os gays reagiram.

“Eles arrastavam uma lésbica de porte masculino. Há um parque do lado oposto com muitos meninos de rua gays, e eles começaram a vaiar a polícia. A lésbica se debatia e se desembaraçou das algemas. Se jogou contra a porta e de repente saiu do carro e começou a chutá-lo, debaixo de aplausos. E subitamente o que era uma comédia passou a ser uma arruaça, foi um momento inesquecível”, narrou depois um dos frequentadores.

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A polícia se retirou da boate. Os parquímetros do estacionamento foram arrancados e jogados na calçada. Bob Koiler, cliente do Stonewall recorda:

“Os rapazes começaram a zombar dos guardas chamando-os com nomes de travestis. Eu não vi nada que pudesse causar um tumulto, mas de repente irrompeu uma cólera e os guardas se retiraram de Stonewall. Alguém tentou forçar a porta com um parquímetro. Vidros foram quebrados. O fogo começou em algumas lixeiras. Havia uma boa dose de humor. Os guardas introduziram uma mangueira de incêndio por uma abertura para molhar todo mundo, mas apenas um filete d’água apareceu, foi humilhante. E novamente houve muitas risadas”.

Na noite seguinte os guardas chegaram com aparato antichoque. Os gays fizeram fila, cantando e dançando: “Nós somos meninas de Stonewall/ temos o cabelo cacheado/ não usamos roupa de baixo/ e mostramos nossos pelos púbicos”. Os guardas avançaram para desmobilizar o grupo, mas quando viravam a esquina um novo grupo estava a postos. Um guarda porto-riquenho, bonitão, escorregou e caiu.

Stonewall inspirou a criação da Frente de Libertação Gay, copiando o modelo norte vietnamita usado na guerra. Vinte e quatro horas mais tarde as janelas de Stonewall estavam cobertas por slogans políticos: “Viva o poder gay.” Os primeiros panfletos aparecem: “Os homossexuais estão se revoltando? Pode apostar seu belo traseiro nisso”.

Seis meses depois, a FLG (Frente de Libertação Gay) havia discursado em 175 campus universitários. A ideia da discrição homossexual começava a ruir. Um ano mais tarde, na primeira semana do Gay Pride, a primeira marcha se organiza: 15 mil gays vão de Greenwich Village até o Central Park. Logo, marchas semelhantes acontecem em São Francisco, Los Angeles e Chicago.

“Homossexual é uma classificação. Gay é um estilo de vida”, era a palavra de ordem dos americanos. Venceram. A primeira marcha do Gay Pride inglesa aconteceu em 1972, mas antes disso os gays já eram visíveis e ouvidos. Dez anos mais tarde a cultura gay estava implantada. As paradas gays comemorando Stonewall foram organizadas em todo o mundo. “Stonewall foi como a queda de um grampo que é ouvida no mundo inteiro e a mensagem chegou claramente na Inglaterra”, recorda Kenneth, militante inglês.

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O orgasmo múltiplo do homem: é hora de descobrir esse potencial https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/25/o-orgasmo-multiplo-do-homem-e-hora-de-descobrir-esse-potencial/ https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/25/o-orgasmo-multiplo-do-homem-e-hora-de-descobrir-esse-potencial/#respond Thu, 25 Jun 2020 07:00:00 +0000 https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/?p=9686

Ilustração: Caio Borges/UOL

“Depois que meu marido tem orgasmo ele vira para o lado e dorme.  Eu fico ali, sozinha, olhando o teto.” Quem nunca ouviu uma queixa dessas? É, com certeza, a reclamação mais comum das mulheres em relação aos seus parceiros no sexo. Mas, afinal, por que isso acontece?

Muitos dirão que o homem é egoísta mesmo, que só pensa em sexo e após se sentir satisfeito perde o interesse pela mulher. Mas não é isso, não.  Esse desencontro ocorre porque ele ejaculou e… ficou exausto. Mal consegue se mexer, só desejando dormir.  Um homem até declarou: “ Depois que eu ejaculo, o travesseiro se torna muito mais atraente do que a minha namorada”.

Como orgasmo e ejaculação acontecem quase ao mesmo tempo, o homem ocidental pensa que são a mesma coisa, não se preocupando em  separá-los.  E, com isso, não sabe o que está perdendo. Os chineses há mais de 3.000 anos perceberam que o homem pode ter vários orgasmos seguidos sem ejacular e, desse modo, aumentar a longevidade por não sentir a fadiga que se segue à ejaculação. Não é à toa que os franceses usam a expressão la petite mort — “ pequena morte” para a ejaculação — numa referência ao perigo para a vitalidade masculina.

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O jornal “The New York Times” publicou, nos anos 90, o resultado de uma pesquisa científica sobre os danos causados pela produção de esperma para o organismo do homem, concluindo que “gerar esperma é muito mais difícil do que os cientistas imaginavam. Isso requer um desvio de recursos que pode vir a prejudicar a saúde masculina a longo prazo”.

E isso faz sentido, pois durante toda a sua vida um homem ejacula em média 5.000 vezes. Considerando que cada ejaculação contém de 50 a 250 milhões de espermatozóides, ele ejacula cerca de um trilhão de desnecessários espermatozóides!  Entretanto, na realidade, só precisaria ejacular quando desejasse ter um filho.

E onde é que entra o prazer nessa história? Sem dúvida, o orgasmo é o prazer físico mais intenso que o ser humano pode experimentar. E o homem pode aprender a ter vários orgasmos consecutivos, mais intensos e fortes, sem ejacular. Dessa forma, ele substitui o prazer momentâneo de uma ejaculação comum pelo prazer do orgasmo múltiplo, que, além de permanecer por longo período, aumenta a energia e a sensação de bem estar.

Mas a maioria dos homens desconhece seu potencial multiorgástico e só se preocupa em chegar rápido à ejaculação, para se certificar que cumpriu o papel de macho.

Para o homem ter vários orgasmos sem perder a ereção, existe toda uma técnica a ser desenvolvida. Nela se aprendem exercícios que possibilitam o controle da respiração e o fortalecimento do músculo da região pubiana, responsável pelas contrações rítmicas da pelve durante o orgasmo. Assim, o homem passa a ter ereções mais firmes, intensifica seus orgasmos e aprende a separar orgasmo e ejaculação.

Especialistas afirmam, inclusive, que os homens que praticam esses exercícios começam a sentir orgasmos múltiplos dentro de uma a duas semanas e a aperfeiçoar as técnicas em três a seis meses. É curioso, mas até há pouco tempo as mulheres também não sabiam que eram multiorgásticas.  E muitas só passaram a ter orgasmos múltiplos depois que descobriram ser isso possível.

Um livro que ensina os exercícios para que o homem desenvolva o controle do reflexo ejaculatório é “O Orgasmo Múltiplo do Homem”, de Mantak Chia & Douglas Abrams Arava.

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“Adoraria estar com meu ex que me fez sofrer, não com meu namorado atual” https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/22/adoraria-estar-com-meu-ex-que-me-fez-sofrer-nao-com-meu-namorado-atual/ https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/22/adoraria-estar-com-meu-ex-que-me-fez-sofrer-nao-com-meu-namorado-atual/#respond Mon, 22 Jun 2020 07:00:41 +0000 https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/?p=9671

“Estamos namorando há seis meses. Ele é o homem que qualquer mulher deseja – bonito, inteligente, carinhoso. Sei que me ama e é bom sentir que faz tudo por mim. Temos ficado bastante tempo juntos nesse isolamento. Mas tudo virou de cabeça para baixo na minha vida, quando um ex, de quem eu não tinha notícias havia bastante tempo, me procurou. Ele me fez sofrer muito, é egoísta e nada confiável. Mas fico sem ar quando ele me procura. O problema é que adoraria esta com ele e não com meu namorado atual.”

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Para o sexólogo americano John Money , antes de qualquer escolha amorosa, já havíamos desenvolvido um mapa mental, um modelo cheio de circuitos cerebrais que determinam o que desperta nossa sexualidade, o que nos leva a nos apaixonarmos por uma pessoa e não por outra.

Ele acredita que as crianças desenvolvem esses mapas amorosos entre os cinco e oito anos de idade, e são determinados pelos relacionamentos com a família, amigos, assim como por suas próprias experiências. Por exemplo, quando crianças, nos acostumamos à bagunça ou à tranquilidade da casa, ao jeito como nossa mãe nos escuta, ralha conosco ou nos estimula, e como nosso pai brinca ou caminha.

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Algumas características de temperamento de nossos amigos e parentes nos atraem e outras associamos a incidentes perturbadores. Assim, pouco a pouco, essas memórias começam a formar um padrão em nossa mente, um modelo subliminar do que nos agrada e do que nos desagrada.

À medida que crescemos, esse mapa inconsciente toma forma e a imagem do parceiro ideal começa a emergir. Depois, na adolescência, esses mapas amorosos vão se solidificando, tornando-se bem específicos com relação aos detalhes da fisionomia, da constituição física do parceiro ideal, sem mencionar o caráter, a educação etc. Temos um quadro mental do parceiro idealizado, dos cenários que nos atraem e dos tipos de conversas e de atividades eróticas que nos excitam.

Desse modo, bem antes de conhecermos a pessoa a quem vamos amar, já temos prontos alguns elementos básicos de nosso parceiro ideal. Depois, quando encontramos quem se encaixe dentro desses parâmetros, nos apaixonamos por ele e nele projetamos nosso mapa amoroso. O objeto da paixão é em geral bem diferente de nosso ideal, mas deixamos de lado essas inconsistências para fazê-lo se encaixar em nosso modelo. Daí a famosa frase de Chaucer: ‘O amor é cego’.

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Na hora do sexo, gordura, flacidez ou barriga interferem no seu tesão? https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/20/a-preocupacao-das-mulheres-com-o-corpo-na-hora-do-sexo/ https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/20/a-preocupacao-das-mulheres-com-o-corpo-na-hora-do-sexo/#respond Sat, 20 Jun 2020 07:00:07 +0000 https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/?p=9677

Ilustração: Caio Borges

A insatisfação com o corpo faz com que as mulheres não se sintam à vontade na hora do sexo. A exceção são as lésbicas. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita na Universidade de Jaén, na Espanha, com 333 mulheres entre 18 e 62 anos — 176 delas se identificam como heterossexuais, 79 como bissexuais e 78 como lésbicas.

O estudo foi publicado na revista Frontiers in Psychology, e constatou que a baixa autoestima corporal está presente em mesma proporção nos três grupos, mas só tem impactos significativos na vida sexual das mulheres que se relacionam com homens.

Lendo essa matéria em Universa, me lembrei de uma paciente que atendi há algum tempo. Joyce, 38, estava separada havia quatro. Durante esse tempo, fugiu de todas as possibilidades de encontros amorosos e não fez sexo nenhuma vez. Sentindo-se gorda, sempre acreditou que decepcionaria o homem na cama. Entretanto, conheceu Pedro e começaram a namorar.

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“Não tenho mais desculpas para adiar o momento de transarmos, mas tenho medo que ele perca o tesão por mim. Tenho que ficar numa posição em que o culote nem a barriga apareçam; não posso me mexer muito. A luz tem que estar apagada. Já estou tão preocupada, que não vai ser possível curtir muita coisa.”, me disse ela.

Na época, fiz a seguinte pergunta para algumas mulheres: “Na hora sexo, gordura, flacidez ou barriga atrapalham? Por quê?” Aí vão algumas respostas:

“Porque a flacidez e as gordurinhas podem abalar nossa autoconfiança. Vivemos numa sociedade que supervaloriza o corpo malhado, todo definido”;

“Porque é horrível o cara olhar para uma barriga com gordura, e pior ainda olhar para uma bunda flácida ou coxa cheia de celulite.”

“A maioria das mulheres vive uma busca constante do “corpo ideal” de um padrão estabelecido pela sociedade, e quando não o atinge, vem a frustração e a vergonha. Eu mesma deixei de sentir prazer por vergonha do meu corpo.”

Não podemos esquecer de que existe uma diferença fundamental entre o erotismo masculino e o feminino. O erotismo masculino é ativado pela forma do corpo, pela beleza física. Na mulher essa exigência é muito menor em relação ao homem.

Como a mentalidade patriarcal condicionou o homem a provar que é o melhor o tempo todo, não é raro encontrarmos homens inseguros, que dependem da avaliação estética que os amigos fazem de suas escolhas amorosas para se sentirem valorizados ou não.

Mas as pessoas que conseguem se libertar da submissão aos padrões de beleza estabelecidos podem se sentir atraídas por aspectos mais sutis percebidos no jeito de ser do outro, ao contrário de ficarem limitadas por gordurinhas e barriguinhas.

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As relações entre orgasmos e a nossa saúde mental https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/18/as-relacoes-entre-orgasmos-e-a-nossa-saude-mental/ https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/18/as-relacoes-entre-orgasmos-e-a-nossa-saude-mental/#respond Thu, 18 Jun 2020 07:00:18 +0000 https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/?p=9665

Ilustração: Caio Borges/UOL

Um dia recebi no consultório o telefonema aflito de uma mulher querendo marcar hora com urgência. Ethel, de 76 anos, magrinha, de cabeça toda branca, chegou agitada. E foi logo contando sua história:

“Moro com minha irmã, dois anos mais velha. Nunca nos casamos, somos virgens. Até pouco tempo atrás eu nunca tinha me preocupado com sexo. Mas de dois anos pra cá a minha vida virou um tormento. De manhã quando acordo, se não me masturbar, não consigo fazer nada, nem dizer para a empregada o que é preciso comprar para o almoço. E o meu desejo sexual vem aumentando cada vez mais. Agora descobri que com o chuveirinho do bidê posso ter mais prazer do que com a minha mão. Mas estou preocupada, tenho pavor de que a minha irmã descubra que faço isso.”

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Os sentimentos de vergonha e culpa, tão presentes na nossa cultura, fazem com que quase todos se recriminem por suas atividades ou mesmo por seus desejos, como se não fossem algo humano. No mundo ocidental, o corpo é visto como inimigo do espírito. Aprendemos a nos sentir envergonhados e culpados por ele, principalmente pelos órgãos sexuais e suas funções.

Há muito tempo nos ensinam que imagens do corpo humano nu, particularmente experimentando o prazer sexual, são obscenas. E mesmo quando se consegue rejeitar conscientemente todo esse moralismo, a mensagem negativa é absorvida sem que se perceba.

E o sexo sendo visto como algo tão perigoso leva a maioria a renunciar à própria sexualidade, ficando quieta no seu canto. A questão é que nem sempre a repressão é bem sucedida, como no caso de Ethel.

Para o psicanalista Wilhelm Reich (1897-1957) as enfermidades psíquicas são a consequência do caos sexual da sociedade, já que a saúde mental depende da potência orgástica, isto é, do ponto até o qual o indivíduo pode se entregar e experimentar o clímax de excitação no ato sexual.

Ele tinha total convicção da importância do orgasmo para a saúde física e mental, bem como para evitar as neuroses. A partir da observação de seus pacientes, concluiu que aqueles que passavam a estabelecer relações sexuais mais prazerosas apresentavam melhoria do quadro clínico.

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“Meus pais não aceitam meu namoro; dizem que minha namorada é ninfomaníaca” https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/15/meus-pais-nao-aceitam-meu-namoro-dizem-que-minha-namorada-e-ninfomaniaca/ https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2020/06/15/meus-pais-nao-aceitam-meu-namoro-dizem-que-minha-namorada-e-ninfomaniaca/#respond Mon, 15 Jun 2020 07:00:44 +0000 https://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/?p=9657

Ilustração: Caio Borges/UOL

“Tenho 24 anos e tenho uma namorada há seis meses. Não tenho dúvida de que a amo, mas minha vida em casa está um inferno. Meus pais não aceitam o meu namoro. Eles alegam que eu mereço coisa melhor; que minha namorada não passa de uma ninfomaníaca. Antes de mim, ela teve três namorados que são meus conhecidos, e meus pais acham isso inadmissível.”

 

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A ninfomaníaca, ou seja, a mulher que nunca se satisfaz no sexo, foi um mito alimentado, ao longo da história, pela repressão sexual. No século 19, uma onda de fervor moral varreu o Ocidente. As mulheres foram conclamadas a proporcionar um modelo de pureza para ambos os sexos. Ao mesmo tempo, o novo ideal feminino – a mulher casta, o anjo da casa – fazia com que elas ficassem num pedestal.

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Sua missão era domar as paixões dos homens e manter a castidade do lar, mas isso sem participar do mundo. Os médicos avaliaram que elas tinham um sistema nervoso muito delicado, “doença mensal” e cérebro menor, além de órgãos reprodutivos também menores; tudo isso fazia com que fosse insalubre para elas votar, trabalhar fora de casa, escrever livros, ir para a universidade, ou participar de debate público.

Diversas teorias médicas tentavam explicar as causas da ninfomania: nervos esgotados, inflamação no cérebro, lesões na coluna, cabeça deformada, além de genitália irritada e clitóris ampliado. Diziam também que a ninfomania se relacionava com o desejo sexual não controlado pela vontade, a disposição para sucumbir à tentação.

Sem dúvida, a mulher insaciável é uma fantasia masculina. Mas muitas mulheres sofreram em função desse mito. Médicos retiravam os ovários de algumas mulheres para controlar sua sexualidade, e em alguns casos, removiam o clitóris. Outras foram colocadas em instituições para doentes mentais com o diagnóstico de ninfomaníacas.

Os preconceitos históricos quanto à sexualidade feminina, aliados à ignorância sempre causaram vítimas. Na medida em que havia a crença de que mulheres não têm desejo, qualquer uma que tivesse algum era doente: uma ninfomaníaca.

O pesquisador da sexualidade, Alfred Kinsey, dizia que ninfomaníaca é alguém que gosta sexo mais do que você. Para muitos, até hoje, qualquer mulher que gosta de sexo e não se reprime, é considerada uma mulher insaciável.

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