Os prejuízos da censura
A exposição "Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira", uma mostra de arte contemporânea que reunia 270 obras, de 85 artistas, no Santander Cultural, em Porto Alegre, foi cancelada. Os artistas que abordavam a temática LGBT, questões de gênero e de diversidade sexual sofreram acusações absurdas como as de estimular a zoofilia e a pedofilia. A decisão gerou protestos e a instituição foi acusada de promover censura.
Isso não é novidade. Pessoas moralistas e preconceituosas estão sempre com suas baterias apontadas para qualquer coisa que escape aos modelos. Com a arte não é diferente. Na Idade Média, antes de serem exibidas para o público, as estátuas tinham seus órgãos genitais tapados, ou o pênis quebrado com um martelinho especial. O Davi, de Michelangelo, antes de ser exibido em Florença, em 1504, recebeu uma folha de figueira, só retirada em 1912.
Estamos no século 21 e essa censura é indefensável. A obra de arte, além do deleite estético que proporciona é oportunidade de reflexão fundamental. Reprimi-la é revelar desrespeito e ignorância.
A repressão sexual é um conjunto de interdições, permissões, valores, regras estabelecidas pelo social para controlar o exercício da sexualidade. No Ocidente, sobretudo, o sexo é visto como algo sujo e perigoso. W. Reich, profundo estudioso da sexualidade humana na primeira metade do século 20, diz que o objetivo da repressão sexual consiste em fabricar indivíduos para se adaptar à sociedade autoritária, se submetendo a ela e temendo a liberdade, apesar de todo o sofrimento e humilhação de que são vítimas.
Freud vê três origens para o sofrimento humano: a força superior da natureza, a fragilidade dos nossos corpos e a inadequação das normas que regulam as relações mútuas dos indivíduos na família, no Estado e na sociedade. Não é difícil perceber que a doutrina de que há no sexo algo pecaminoso é totalmente inadequada, causando sofrimentos que se iniciam na infância e continuam pela vida afora.
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