Aumento das separações tem a ver com o que se espera do casamento
Dados da última pesquisa de Estatísticas do Registro Civil do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que comparou os dados de 2010 — primeiro ano do estudo com esse filtro de tempo — até os mais recentes, de 2014, constata que houve um aumento de 466,8% no número de casais que se separaram antes de completar um ano de casados. Os números do IBGE seriam ainda maiores se pudessem constatar o fim de uniões sem papel passado.
Muitos alegam que isso está acontecendo porque as novas gerações não toleram esperar, são egoístas, querem relações perfeitas e que não desejam mais fazer sacrifícios pelo relacionamento. Penso diferente.
Amor e casamento são construções sociais. Mudam em cada época. Até recentemente, ninguém podia casar por amor, que só entrou no casamento, a partir de 1940. Casar, para as moças era a principal meta na vida. Poucas trabalhavam fora de casa e as separadas não eram aceitas socialmente.
A ideia de felicidade conjugal depende das expectativas que se tem do casamento. Durante muito tempo a mulher não tinha do que reclamar se seu marido fosse bom chefe de família, respeitador, e não deixasse faltar nada em casa. Para o homem, a boa esposa cuidava bem da casa, dos filhos e dele próprio. E, claro, mais do que tudo, não deixasse aflorar a sua sexualidade. Sem pretensão de romance nem de prazer sexual, ninguém se decepcionava e não havia separações.
A radical modificação se inicia na década de 1960 com a pílula. Os movimentos de emancipação feminina e de liberação sexual trouxeram mudanças profundas nas expectativas conjugais. Casar buscando realização afetiva e prazer sexual foi a grande novidade.
O casamento passa a ser visto por outro prisma. Ainda bem que agora não se acredita mais que a união de duas pessoas deva exigir sacrifícios e cada vez menos se deseja pagar qualquer preço apenas para ter alguém ao lado. As potencialidades de cada um adquirem grande importância.
A internet reformulou as relações amorosas, oferecendo muitas opções de lazer, de interesses variados, de pessoas e lugares. Ao contrário da época em que, excetuando os casos de intenso sofrimento, ninguém se separava, hoje a duração dos casamentos é cada vez menor. Quando a pessoa se vê privada das perspectivas, que são, de alguma forma, possíveis, a frustração é inegável.
Ao contrário de tentar entender o aumento das separações, nos baseando em modelos do passado, penso que é necessário perceber que o mundo não é mais o mesmo e lançar um novo olhar para as mudanças que se apresentam, sem considerá-las necessariamente negativas.
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