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Regina Navarro Lins

"Ele não aceitou o fim da relação e agora me persegue" O que você faria?

Regina Navarro Lins

14/08/2017 04h00

Ilustração: Caio Borges

"Sou uma mulher independente, consegui me estabelecer com minha formação em engenharia e nunca tive medo dos relacionamentos. Mas aos 30 anos fui obrigada  a mudar de ideia. Foi depois que terminei com meu último namorado. Ele não aceitou o fim da relação e passou a me ligar nas horas mais impróprias: de madrugada ou muito cedo. A loucura dele foi piorando. Deixa bilhetes embaixo da porta do meu apartamento, fica vigiando o prédio em que trabalho, envia centenas de mensagens por dia… Não sei o mais o que fazer…tenho medo de andar sozinha na rua e dar de cara com ele. Pensei em chamar a polícia, mas um amigo disse que pode ser pior. Estou sem saber o que fazer…"

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Este é um caso de stalking. Originário do verbo inglês "to stalk", cujo significado literal é "atacar à espreita", como se faz com a caça. O ex namorado da internauta é um stalker. E estima-se que 20% da população, em algum momento da vida, já tenha sido molestada por um stalker. Stalking é um comportamento assustador, que desde 1990 é considerado crime nos Estados Unidos.

As vítimas sofrem muito. Um terço delas necessita tratamento psicológico. Para o psicólogo americano David Buss, o stalking aprisiona a vítima tanto física quanto psicologicamente. As vítimas relatam restringir suas atividades, tornarem-se temerosas de se aventurar fora do território familiar e sentirem-se amedrontadas em locais muito frequentados. Sentem-se ansiosas ao atender a porta, abrir a correspondência ou atender ao telefone.

J. Reid Meloy, psicólogo americano especializado em medicina legal, concluiu que o stalking poderia ser definido como "um comportamento anômalo e extravagante, causado por vários distúrbios psicológicos (narcisismo patológico, pensamentos obsessivos etc), nutridos por mecanismos inconscientes como raiva, agressividade, solidão e inaptidão social, podendo ser classificado como patologia do apego".

As causas desse desejo de perseguir ainda não são muito claras, mas existem estudos apontando para a incapacidade de lidar com as perdas da infância e da idade adulta. O que se sabe é que, diante de uma recusa da parte contrária, ou movido pelo desejo de proximidade, um stalker desenvolve uma habilidade incomparável para "elaborar estratégias repetidas e indesejáveis só para manter contato: suas ações são tão exageradas (telefonemas e mensagens numerosas e incansáveis, por exemplo) que fazem com que a vítima sinta medo e angústia", diz Meloy.

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Você também vive um conflito amoroso e sexual? Escreva para blogdaregina@bol.com.br e conte sua história em até 12 linhas. Ela pode ser comentada aqui no blog e sua identidade não será revelada.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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