"Não consigo manter um relacionamento sério por causa de traumas familiares do passado"
Ilustração: Caio Borges
"Não consigo manter um relacionamento sério por causa de traumas familiares do passado. Tenho pouco mais de 20 anos e vi o casamento dos meus pais desmontar por causa do alcoolismo do meu pai e da violência que minha mãe sofreu. Hoje, acabo tendo dificuldades de iniciar qualquer relacionamento. Não consigo me libertar para ser feliz com o homem que gostaria de ter ao meu lado. Já procurei ajuda psicológica, mas ainda assim tenho medo de me apaixonar por alguém e de permitir que alguém se apaixone por mim. O que fazer?"
***
A mulher sempre foi extremamente maltratada pela violência do homem, considerada banal no lar. No entanto, supõe-se que ela tinha que aguentar e sofrer sem se queixar. Isso durou muito tempo. Até agora, poucos se dispõem a intervir em briga de marido e mulher. Uma pesquisa do Ipea, de 2014, mostra que 82% consideram que "em briga de marido e mulher não se mete a colher". Foi somente na década de 1970, com as iniciativas das feministas, que se começou a estudar o impacto da violência conjugal sobre as mulheres. Mesmo assim muitas continuam sendo agredidas por seus maridos.
A agressão física não acontece de uma hora para outra. Tudo tem início muito antes dos empurrões e dos golpes. Um olhar de desprezo, uma ironia, uma intimidação, são pequenas violências que vão minando a autoestima da mulher. A psicanalista francesa Marie-France Hirogoyen, que estudou profundamente o tema, diz que antes do primeiro tapa as mulheres devem cortar o mal pela raiz, reagindo à violência verbal e psicológica. Para isso é essencial que elas aprendam a perceber os primeiros sinais de violência para encontrar em si mesmas a força para sair de uma situação abusiva. Compreender por que se tolera um comportamento intolerável é também compreender como se pode sair dele.
Atos de violência física podem não ocorrer mais de uma vez ou podem se repetir, mas quando não são denunciados há sempre uma escalada de intensidade e frequência. A violência sofrida, geralmente, pela mãe afeta profundamente os filhos, mesmo que não sejam agredidos diretamente. O impacto sofrido por um criança ao presenciar cenas de agressão em casa pode comprometer toda sua vida. A indicação é psicoterapia, desde que com profissional competente.
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