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Regina Navarro Lins

Apesar de medos e culpas, homens e mulheres são profundamente adúlteros

Regina Navarro Lins

08/10/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta, casado, que gosta muito da esposa e tem tesão por ela, mas sente uma "vontade louca" de transar com outra mulher. Já pensou em sugerir uma relação aberta, mas não sabe se aguentaria o ciúme.

Morte por apedrejamento, fogo, afogamento, sufocamento, arma de fogo, golpes de punhal, açoitamento público, marcação a ferro quente, espancamento, decepamento do nariz e das orelhas e mutilação dos genitais foram e são ainda castigos cruéis praticados em todo o mundo quando um adultério é descoberto.

Um bom exemplo vem da Inglaterra. Das seis mulheres do rei Henrique VIII (1491-1547), duas foram decapitadas acusadas de infidelidade.

Apesar de nosso tabu cultural contra a infidelidade, são muito comuns as relações extraconjugais. O pesquisador Alfred Kinsey afirmou a esse respeito:

"A preocupação da biografia e da ficção do mundo, em todas as épocas e em todas as culturas humanas, com as atividades não-conjugais de mulheres e homens casados, é evidência da universalidade dos desejos humanos nessas questões."

O presidente Bill Clinton quase sofreu um impeachment por seu relacionamento com a estagiária. Na realidade, poucos se contentam com um único parceiro sexual. Em matéria de infidelidade quem se esquece do príncipe Charles? Muitos outros também ocuparam as páginas dos jornais.

É impressionante que as pessoas arrisquem tanto – status, reputação, casamento, filhos e até segurança pessoal – para praticar sexo fora do casamento.

Isso parece ser irresistível como uma droga. Tão irresistível a ponto de as pessoas se arriscarem também a serem mutiladas e/ou executadas. Mas apesar de todas as punições, homens e mulheres, de qualquer época e de qualquer lugar, se envolvam em relações extraconjugais.

Contudo, o adultério não é tão simples para todos. O conflito entre o desejo e o medo de transgredir pode ser doloroso. "As estatísticas mostram que no sexo feito à tarde é quando ocorre maior incidência de infartos, mas isso acontece porque é nesse período do dia em que se dão os encontros fora do casamento. A relação extraconjugal pode ser mais excitante, mas transgredir, estar preocupado se tudo vai dar certo, são situações que podem gerar ansiedade.", me disse certa vez o médico cardiologista Carlos Scherr.

A questão é que reprimir os verdadeiros desejos não significa eliminá-los. W.Reich afirma que todos deveriam saber que o desejo sexual por outras pessoas constitui parte natural da pulsão sexual.

Provavelmente diminuiriam as torturas psicológicas e os crimes passionais, e desapareceriam também inúmeros fatores e causas das perturbações psíquicas que são apenas uma solução inadequada desses problemas.

Apesar dos conflitos, medos e culpas, da expectativa dos parentes e amigos, dos costumes sociais, e dos ensinamentos estimularem que se invista toda a energia sexual em uma única pessoa — marido ou esposa —, homens e mulheres são profundamente adúlteros.

Será que não está na hora de começarmos a questionar se fidelidade tem mesmo a ver com sexualidade?

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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