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Regina Navarro Lins

Machões, adeus!

Regina Navarro Lins

04/10/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que respondeu à enquete da semana acredita que o machão não satisfaz a mulher sexualmente.

Pat, professora de inglês, 35 anos, é um bom exemplo disso. Ela se separou do marido após 11 anos de relação. Agora, solteira, estava decidida a conhecer outros homens e viver um sexo intenso, com muito prazer, o que não ocorria no casamento.

"Há uma semana conheci um cara bonito, que parecia legal. Ele logo veio com uma conversa de conquista. Após alguns contatos de sedução acabamos indo para a cama. Foi horrível! Ele não teve a menor sensibilidade comigo, foi me agarrando após nos despirmos e logo me penetrou. Senti ardência por não estar suficientemente lubrificada. Ele gozou rápido e saiu de dentro de mim, o que achei ótimo. A questão é que a partir daí me ignorou….dando atenção somente às mensagens do seu celular. Que decepção…"

Haverá algum dia igualdade entre os sexos? O machão está perdendo o prestígio? Acredito que sim, mas ainda temos um longo caminho pela frente. A masculinidade é uma ideologia que justifica a dominação exercida pelo homem. Ela é ensinada e construída, portanto, pode ser diferente em cada época e lugar.

A historiadora austríaca Riane Eilser diz: "Talvez não estejamos conscientes disso, mas todos fomos influenciados na nossa maneira de pensar o sexo pelo que nos foi ensinado acerca de nossas origens sexuais. A caricatura popular do homem da caverna carregando um bastão e arrastando uma mulher pelo cabelo, com alguns traços "divertidos", nos diz que desde um tempo imemorial, os homens equiparam sexo à violência e as mulheres são objetos sexuais passivos. Em outras palavras, nos ensina que o sexo, a dominação masculina e a violência coincidem – e que por baixo do verniz da civilização é assim que acontece."

O resultado disso é que homens e mulheres foram inibidos na capacidade para o prazer sexual. A dificuldade de se expressar bem nessa área é tanta que muitos homens têm grande preocupação em não perder a ereção.

E por isso fazem um sexo apressado, com o único objetivo de ejacular. Cumprir o papel de macho é o principal objetivo. Trocar afeto e prazer com a parceira é secundário.

As mulheres tiveram sua sexualidade reprimida; não são poucas as que até hoje são incapazes de atingir o orgasmo.

A maioria dos homens ainda persegue o ideal masculino – força, sucesso, poder –, mas eles têm as mesmas necessidades psicológicas das mulheres: amar e ser amado, comunicar emoções e sentimentos.

A questão é que desde crianças são ensinados a desprezar as emoções delicadas e a controlar os sentimentos. Demonstrar ternura, se entregar relaxado à troca de prazer sexual com a parceira, é difícil; perder o controle ou falhar é uma ameaça constante.

O processo de socialização que transforma os meninos em homens "machos" impede a espontaneidade na relação com as mulheres. É impossível ser amoroso quando se é "travado" emocionalmente.

É inegável que a masculinidade está em crise. Todo o esforço exigido deles para ser considerados "homens de verdade" provoca angústia, medo do fracasso e dificuldades afetivas.

Mas como resolver o impasse entre a proibição social de expressar sentimentos considerados femininos e a crítica cada vez mais acirrada ao homem machista?

Talvez o jeito seja se unir às mulheres e repudiar essa masculinidade como natural e desejável. Nem todos aceitam o roteiro do macho e cada vez mais homens, em todo o mundo, tomam consciência da desvantagem desse papel e empreendem a desconstrução e a reconstrução da masculinidade.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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