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Regina Navarro Lins

O que aceitamos ou não num relacionamento

Regina Navarro Lins

01/10/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta que tem um namorado frequentador assíduo de swings. Concordaram que ele iria uma vez ao mês e que contaria a ela. Isso já aconteceu três vezes e nessa noite ela fica muito mal, chora e tem ciúmes. Ele não permite que ela vá nem a convida para ir com ele.

O swing, ou seja, a troca de casais, chegou à classe média do Ocidente em fins da década de 70, nos EUA, mas sua prática é antiga em outras civilizações.

Os esquimós costumavam deixar suas mulheres emprestadas ao vizinho, quando saíam para caçar. O objetivo era a preservação da mulher, que podia não resistir, sem apoio de alguém, às baixas temperaturas.

A China também tinha o costume, até a Revolução Cultural, de os maridos, quando se ausentavam, alugarem as esposas. No Tibet, na África e no Havaí há registros sobre esse costume.

As sociedades ocidentais modernas convivem com clubes e publicações especializadas. Os casais anunciam, com fotos, suas intenções. Após troca de e-mails, marcam encontros.

Os adeptos consideram o swing, antes de tudo, uma forma de sair da rotina de suas relações, quando são casados, ou uma liberação das fantasias quando não são. Há códigos que devem ser observados para a prática do swing.

Talvez códigos claramente estabelecidos tenham faltado no relacionamento da internauta que enviou para o blog a sua história.

No início de um namoro o que esperamos da relação, o que aceitamos ou repudiamos, vão sendo passados de um para o outro, na maior parte das vezes, de forma inconsciente.

Cada relacionamento tem seus códigos específicos. Se a pessoa não fica atenta e for aceitando um comportamento no outro que a desagrada, depois fica muito difícil mudar.

A questão é que no século 20 o amor passou a ser valorizado como nunca havia sido em qualquer outro momento da História. As pessoas buscam desesperadamente o amor, e pagam qualquer preço para ter alguém ao lado, não importando muito se a relação amorosa é limitadora.

As mulheres, principalmente, acreditam que qualquer coisa é melhor do que ficarem sozinhas. É fundamental ter um homem ao lado, o resto se constrói, ou se inventa. Acredita-se tanto nisso que sua ausência abala profundamente a autoestima, fazendo com que muitas mulheres se sintam desvalorizadas.

Por medo da solidão muitos suportam o insuportável tentando manter a estabilidade do vínculo. Mas é fundamental que todos desenvolvam a capacidade de viver bem sem um par amoroso.

A condição essencial para ficar bem sozinho é o exercício da autonomia pessoal, com a aquisição de nova visão do amor e do sexo. Assim, o caminho fica livre para um relacionamento mais profundo com os amigos, com crescimento da importância dos laços afetivos.

É com o desenvolvimento individual que se processa a mudança interna necessária para a percepção das próprias singularidades e do prazer de estar só. Quando se perde o medo de ser sozinho, se percebe que isso não significa necessariamente solidão.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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