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Regina Navarro Lins

Ser trocado por outro não significa que se é inferior

Regina Navarro Lins

27/08/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta, casada há 15 anos, que afirma ter vivido bem com o marido até que ele conheceu uma mulher pela qual se apaixonou. Ela mora numa cidade distante, mas ele foi passar as férias com ela e quer romper o casamento.

A dor de ser trocado por outra pessoa numa relação é infinitamente mais forte do que a de alguém simplesmente abandonado. O terceiro chega como substituto e acrescenta um valor de competição que torna o drama pessoal do preterido muito maior.

A maioria das separações acontece até o quarto ano da relação e a motivação principal costuma ser o fim do interesse amoroso. Quando não acontece nesse período se desenvolve certa tendência à acomodação, o que vai tornando mais difícil o rompimento.

Curiosamente, Reich, na década de 40, sem saber desses dados, concluiu que uma relação amorosa de base sexual não passa de quatro anos.

A separação inicia seu processo lentamente, na maior parte das vezes de forma inconsciente. O desgaste vai minando a vida cotidiana, e esta deixando de proporcionar prazer ao casal. É comum a negação de que o processo esteja ocorrendo, principalmente, pelas expectativas de realização afetiva depositadas na relação.

Nas relações que geram uma troca imediata de parceiro, o excluído se sente profundamente desvalorizado. Credita o fato à sua falta de atrativos ou falha pessoal. Além disso, a separação é dolorosa porque impõe o rompimento com a fantasia do par amoroso idealizado, além de abalar a autoestima e exacerbar as inseguranças pessoais.

O sofrimento é intenso e é difícil elaborar a perda. Há sensação de vazio e de desamparo. Afinal, fomos ensinados a acreditar que apenas o parceiro amoroso é capaz de nos garantir não estar só, de ser amado e de ser uma pessoa importante.

A seguir alguns depoimentos colhidos de pessoas que viveram esse drama.

"Após seis anos de casada, cheguei do trabalho e o armário de roupas de meu marido estava vazio. Ele não teve coragem de falar comigo diretamente. Foi muito triste. Nosso encontro foi na frente dos advogados."

"Descobri que minha mulher me traía porque um amigo meu a viu aos beijos, dentro do carro de outro cara. Eu gostava tanto dela que tentei passar por cima dessa informação. Mas chegou a um ponto que estava na cara que ela não me suportava mais. Nos separamos."

"Perdi meu marido para minha ex melhor amiga. Só soube disso quase um ano depois da separação quando eles foram viver juntos e se deram ao trabalho de inventar uma história de que começaram a transar depois de nossa separação. Ele não conseguiu me dizer por que queria me abandonar porque não podia me dizer que estava dormindo com minha melhor amiga… Muito triste."

As situações de abandono conduzem muitas vezes a reedição de antigas rejeições, na infância, adolescência ou qualquer outro momento. Sofremos pelo acúmulo de perdas.

Contudo, ser trocado por outro não significa que se é inferior. Em muitos casos, a troca ocorre porque a pessoa objeto da nova paixão possui algum aspecto que satisfaz inconscientemente uma exigência momentânea do outro, sem haver uma vinculação necessária com o parceiro rejeitado.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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