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Regina Navarro Lins

A cobrança de exclusividade sexual

Regina Navarro Lins

10/05/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que respondeu à enquete da semana já foi infiel.

A existência da chamada "fidelidade" entre duas pessoas que mantém uma relação amorosa é questão implícita e Indiscutível. O elemento básico dessa "fidelidade" é a exclusividade sexual. Cama, beijos, penetração… só com o parceiro fixo.

Essa regra não está escrita, nem sequer é cogitada no início de uma relação: é um fundamento e ponto. Mas a quase lei repousa sobre uma fragilidade: a simples presença de um terceiro, que interesse a uma das partes, põe tudo abaixo. E isso é muito comum.

O primeiro registro por escrito sobre a monogamia data de 900 a.C. no antigo Egito. Naquele tempo e lugar já existiam contratos e direitos adquiridos por via do casamento. E com certeza também existiam adultérios, que não foram registrados em pergaminhos.

Mas a mulher foi a principal "suspeita de sempre". É ela que engravida, e se não for fiel, o homem corre o risco de deixar sua herança para o filho de um estranho. Isso começou há 5.000 anos…

Há uma versão revolucionária, com o viés da "luta de classes", descrito por Engels, o parceiro de Marx. Segundo ele, a primeira luta de classes foi entre homem e mulher e o homem ganhou. Por essa ótica, a mulher não pode se relacionar com outro homem porque tem dono!

Num período da Idade Média, século 14, a posse do homem sobre a mulher foi levada ao limite. Ela deveria usar um "cinto de castidade", quando o marido viajava para a guerra. Algo como um cofre onde a intimidade da esposa era guardada e o homem levava a chave.

O mundo contemporâneo amenizou esses detalhes mais sórdidos, mas a cobrança de exclusividade continua existindo. As razões são mais emocionais.
A convivência diária gera uma situação de dependência emocional, sendo comum se depositar no outro a garantia de não ficar só.

Como sexo e amor são normalmente vistos como inseparáveis, muitos preferem manter a fidelidade para não correr o risco de deixar o outro em desespero.
Porém, quando um dos parceiros abre mão de seus desejos por alguém, por consideração ou pela obrigação, o resultado é desastroso.

Estudo da psicóloga e pesquisadora de casais de Baltimore, Shirley Glass, identifica uma nova "crise de infidelidade" ameaçando o casal. Ela estaria ligada ao relacionamento profissional.

"A nova infidelidade ocorre entre pessoas que sem perceberem formam ligações profundas e apaixonadas, até que cruzam a linha entre a amizade platônica e o romance", diz Glass.

As relações estão, cada vez mais, envoltas no complexo emaranhado da tecnologia digital. O universo cibernético da WEB e das redes sociais faz crescer a cada dia o fim de casamentos estáveis, segundo a psicóloga Kimberly Young, autorade "Tangled in the Web: UnderstandingCybersexFromFantasytoAddiction" (Emaranhado na rede: compreendendo o cibersexo da fantasia ao vício).

Os apelos amorosos e sexuais, a que estamos expostos hoje, podem ser contidos? Acredito que não. A medida que pode ser tomada está dentro de cada um de nós. E se resume em nossa capacidade de viver bem juntos, mas também de sobreviver sozinhos, se for necessário.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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