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Regina Navarro Lins

Decepção no casamento

Regina Navarro Lins

26/04/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

A grande maioria das pessoas que respondeu à enquete da semana acredita que muitos se decepcionam no casamento. A decepção que ocorre em muitos casamentos possui diversas causas. Mas a principal com certeza é a expectativa que se cria a respeito da vida a dois.

É comum homens e mulheres chegarem ao casamento acreditando no que lhes foi ensinado ao longo da existência: alcançarão uma complementação total com o outro, os dois se transformarão numa só, nada mais irá lhes faltar…

Para isso, fica implícito que cada um espera ter todas as suas necessidades pessoais satisfeitas pelo outro. O casal constrói uma tela de proteção contra o mundo e tenta reaver o paraíso simbiótico que tinha no útero da mãe. Ilusão que dura pouco, incapaz de se sustentar na realidade do cotidiano. As frustrações vão então se acumulando.

Isso sem falar na obrigação de só amar uma única pessoa durante anos e somente com ela fazer sexo. Quem não sabe que é comum várias pessoas terem características que nos agradam e nos atraem sexualmente? Mas os desejos espontâneos são gradualmente substituídos pelo que aprendemos a desejar. A partir daí todos se tornam parecidos. As singularidades desaparecem.

Assim, amor, tesão, gratidão e dependência se associam de forma a inviabilizar uma relação afetiva realmente satisfatória. A fusão com o outro torna-o tão indispensável para a nossa sobrevivência emocional, que o controle e o cerceamento da liberdade faz parte da vida de um casal.

Poucos questionam se o casamento, dentro do modelo que conhecemos, é mesmo a única forma de realização afetiva. A maioria se esforça para corresponder às esperanças depositadas nele. Mas é cada vez menor o tempo de duração de uma vida a dois satisfatória.

Acredito que um casamento pode ser ótimo, desde que no início da relação não se idealize o parceiro, atribuindo-lhe características que não possui. E para haver o prazer na companhia do outro, e não ter a sensação de estar sufocado na convivência do dia a dia, alguns ingredientes são fundamentais:

Respeito total ao outro, ao seu jeito de pensar e de ser e às suas escolhas; liberdade de ir e vir, ter amigos em separado e programas independentes. Tudo bem diferente da simbiose que se estabelece na maioria das relações.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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