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Regina Navarro Lins

As ciladas do amor idealizado

Regina Navarro Lins

23/04/2016 09h48

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso é o caso do internauta que está a fim de algo sério com a namorada. Mas há um problema. Ela é de uma família mais humilde e não tem nenhuma ambição para melhorar de vida; não estuda, nem trabalha. Passa o dia nas redes sociais, em aplicativos de mensagens ou na casa de alguma amiga. Ele sente que não estão na mesma fase e não têm os mesmos planos. Pede ajuda para decidir se deve tentar algo com ela ou desistir.

O amor tem sido visto, a partir de certo momento da História humana, como um dos elementos fundamentais de nossa trajetória pessoal. O problema é que precisamos de outra pessoa para essa realização e aí surge o "amor romântico". Esse ideal amoroso começou no século 12, mas só passou a ser uma possibilidade no casamento a partir do século 19. Antes, os casamentos se davam por interesses econômicos.

Como fenômeno de massa começou a partir de 1940, quando todos passaram a desejar casar por amor. É um tipo de amor que só existe no Ocidente. Desde muito cedo somos levados a acreditar numa relação amorosa fixa, estável e duradoura como única forma de realização afetiva. Passamos então a vida esperando o momento de encontrar "a pessoa certa", para, a partir daí, vivermos felizes para sempre.

A questão é que o amor romântico é construído em torno da idealização do amado em vez da realidade. A pessoa inventa o que quer e atribui ao outro características de personalidade que na verdade ele não possui.

Esse tipo de amor surgiu quase junto com a criação das mídias de massa, principalmente o cinema e a televisão. Tornou-se o principal tema de narrativas que o transformam no ideal amoroso supremo.

As narrativas em capítulo dos folhetins, que começaram nos jornais e se transformaram nas novelas de TV e séries encontram aí um elemento que a maioria das pessoas incorpora as suas vidas. E todos correm atrás do encontro supremo e olham para o outro como parte de seus destinos. Só que não é verdade.

Sonhos e esperanças, alimentados quando se conhece alguém que se julga "a pessoa certa", desaparecem, dando lugar à desilusão, muito comum, depois de certo tempo de convivência.

Por que a vida a dois não corresponde às expectativas nela depositadas? A resposta mais provável reside no enorme descompasso entre a expectativa criada e a real possibilidade de satisfazê-la, quando não é mais possível manter a idealização e se percebe aspectos no outro que nos desagradam.

A excessiva idealização do amor faz com que muita gente acredite que o amor é a coisa mais importante da vida. Até há pouco esse recurso foi usado contra as mulheres para desencorajá-las na buscar de uma profissão e de um questionamento sobre os valores que a aprisionavam

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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