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Regina Navarro Lins

Desejo que atormenta

Regina Navarro Lins

30/01/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da mulher casada que começou a participar de aulas de dança e conheceu um homem com o qual teve sonhos eróticos. Saíram e se beijaram. Fazia tempo que ela não se sentia tão desejada. Não para de pensar nesse homem e tem fantasias sexuais com ele. Mas se sente culpada em relação ao marido.

Sentir tesão por alguém que não seja o parceiro fixo, quase todos sentem. No entanto, contar ao parceiro que está com tesão por outro é eliminar totalmente a privacidade e transformar uma relação amorosa em confessionário. Muitos entram num namoro ou casamento acreditando que os dois têm que se transformar numa só pessoa. Nem os pensamentos podem ser reservados.

Acham que amar alguém é estar tão misturado que fica até difícil saber quem é quem. Isso acontece porque as pessoas imaginam que assim vão estar completas, que nunca vão se sentir sozinhas. Os dois têm que gostar sempre das mesmas coisas e, é lógico, só admitem sair juntos. Se um não for, o outro não vai.

Os amigos têm que ser comuns (se houver), e se um dos dois não gostar muito do jeito do amigo do outro, encerra-se logo aquela amizade. É claro que a isso tudo se acrescenta a ideia de que quem ama jamais vai sentir desejo por outra pessoa. Seria uma grande traição. Embora não verbalizem, pensam que os dois devem morrer para o mundo e viver só para o seu amor.

Quem é menos autônomo, mais medroso, defende com frequência a ideia de que para uma relação ser boa não pode haver segredo entre os parceiros. Será que não?

Quando um sabe tudo do outro, com o tempo os dois vão ficando sem novidade alguma. Não existe nada mais para descobrir, tudo se torna excessivamente conhecido: o que ele vai dizer, o que ela vai fazer… para o tédio e a monotonia é um passo.

Há os que se sentem culpadíssimos quando percebem sentir desejo sexual por outra pessoa. Contam para o parceiro, tentando expiar o pecado e, depois de perdoados, se sentirem novamente protegidos num mundo não muito real.

Entretanto, pode acontecer de o parceiro que recebe a confissão se aproveitar disso para torturar o outro, afirmando não poder nunca mais confiar. A maioria dos que não contam nada não deixam de se culpar e, com medo de que o parceiro também sinta tesão por outra pessoa, se tornam inseguros. Ameaçados, começam a controlar tudo.

Não é tão simples viver uma relação amorosa saudável, que contribua para o próprio crescimento emocional. É necessário aprender primeiro a lidar de outra forma com as questões da vida.

Você pode amar muito uma pessoa, estar namorando ou casado com ela e ao mesmo tempo não ter dúvida de que é mais do que natural sentir tesão por outra pessoa. Se vai ou não viver uma experiência sexual com essa pessoa, depende da visão que cada um tem do amor e do sexo.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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