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Regina Navarro Lins

Amor entre mulheres

Regina Navarro Lins

14/11/2015 07h26

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso é o caso da internauta que está casada há 15 anos, mas se apaixonou pela sua chefe. Pensa nela o tempo todo, mas está sofrendo e com muito medo.

As mulheres homossexuais são chamadas de lésbicas em referência à ilha grega de Lesbos, onde, no século VII a.C, viveu a poeta Safo. Ela era objeto de gracejos obscenos e julgamentos moralistas.

Seus amores foram ridicularizados pelos poetas cômicos de Atenas, mas como a vida das mulheres gregas não é muito conhecida, não se tem quase informação a respeito da homossexualidade feminina nessa época.

Na última década, observamos uma novidade: torna-se cada vez mais comum meninas ficarem com meninas. "Acho ótimo não ter que ficar só com meninos. Várias vezes, em festas ou shows, fiquei com alguma menina. Todos começam a dançar e quando vejo, estou beijando uma delas que me atraiu. Beijamos mesmo, com língua e tudo. Mas isso não impede que eu também fique com algum menino.", contou Clara, de 17 anos.

Alguns psicólogos dizem que o fato de as meninas se beijarem não determina alguma tendência homossexual ou bissexual. O beijo poderia ser um desafio, uma tentativa de mostrar como são liberadas, sem preconceitos. Pode ser. Contudo, essa mudança de comportamento das mulheres não se limita ao beijo.

A homossexualidade feminina sempre foi mais tolerada do que a masculina nas sociedades patriarcais. Causa mais curiosidade do que aversão, não sendo raro encontrar um homem declarando que sua fantasia erótica é assistir a duas mulheres fazendo sexo.

Socialmente existe maior liberdade para as mulheres se tocarem, se beijarem, se aconchegarem, manifestando carinho umas pelas outras. A relação amorosa entre elas é, então, menos aparente e é mais fácil dissimular sua verdadeira orientação sexual.

Desde pequenas as meninas são educadas para o casamento com o sexo oposto e para o papel materno. Entretanto, isso não corresponde ao desejo de algumas quando se tornam adultas, e que procuram um vínculo amoroso com outra mulher e não com um homem e, portanto, têm uma orientação afetivo-sexual diferente da maioria. Essa orientação, que começou na infância, revelou-se na adolescência e definiu-se na idade adulta, é de natureza homossexual.

O relacionamento entre duas mulheres lésbicas é diferente do de dois homens gays. Cada casal leva para a relação características que a sociedade determina para o homem e para a mulher.

O sexólogo americano Alfred Kinsey mostra que 63% das lésbicas constituem relacionamentos estáveis e duradouros; para os gays essa percentagem é de quase 40%. A maioria dos casais de lésbicas não sente necessidade de reproduzir o padrão de relacionamento heterossexual, onde um tem o poder sobre o outro.

Entre elas existe a possibilidade de viver uma relação onde duas pessoas são iguais, fora dos estereótipos patriarcais de gênero. Duas mulheres lésbicas bonitas, atraentes e charmosas podem confundir as pessoas quanto à sua orientação sexual.

Alguns machões desinformados acreditam que uma mulher só é lésbica porque foi mal-amada por um homem. A mulher lésbica passa a ser, para esse tipo de homem, um desafio muito grande a ser vencido.

Contudo, homens e mulheres homossexuais precisam lutar para serem autônomos, não se submetendo aos valores impostos nem absorvendo os preconceitos da sociedade. Afinal, ser homossexual não significa infelicidade, da mesma forma que ser heterossexual não garante felicidade a ninguém.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

Blog Regina Navarro