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Regina Navarro Lins

Amor à primeira vista

Regina Navarro Lins

20/10/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que respondeu à enquete já experimentou o amor à primeira vista.

Conhecer alguém numa festa ou em outro lugar qualquer, conversar alguns minutos e se sentir completamente apaixonado; não conseguir dormir direito pensando naquela pessoa, ficar enlevado, fazer planos, imaginar situações.

Isso acontece com muita gente. Amor à primeira vista? Não acredito nisso. Acredito, sim, em tesão à primeira vista. Mas como desde cedo aprendemos a confundir amor com desejo sexual, chamamos uma coisa de outra.

Na maior parte das vezes, a emoção que se sente, nesse caso, não é a do amor verdadeiro nem a do desejo sexual perturbador. O mais comum é que esse amor — em que não se conhece nada do outro —, seja do tipo romântico.

Nele não se percebe a pessoa real como ela é, e a paixão é pela imagem que se constrói dela, pelo que se gostaria que ela fosse. Ansiosos por experimentar as emoções tão propaladas desse amor, quase todos no mundo ocidental constroem a história que bem entendem, sem nem se dar conta disso.

Poucos gostam de ouvir que no amor romântico se inventa uma pessoa que não existe, idealizando-a e projetando nela qualquer coisa que se deseje. Portanto, nada mais natural do que ela ser maravilhosa aos olhos de quem a ama.

O problema é que os apaixonados esperam que todo o mundo enxergue a pessoa amada do mesmo jeito que eles enxergam, não aceitando que os outros ignorem as qualidades percebidas por eles.

Há quem questione se o amor à primeira vista pode ser duradouro. Na realidade, não faz muita diferença ser à primeira, à sexta ou à décima vista.

A questão é outra: se entre a pessoa real e a imagem que se formou dela existe grande distância. Se existir, em pouco tempo o namoro ou casamento se torna insuportável.

Não tendo mais como manter a idealização, por conta da convivência diária, as características de personalidade do outro que não nos agradam, agora são percebidas, comprometendo a relação.

Porém, isso não acontece somente no amor à primeira vista. Pode ocorrer em qualquer experiência amorosa, desde que se enxergue o outro através da névoa do mito do amor romântico.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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