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Regina Navarro Lins

A autoestima em jogo

Regina Navarro Lins

14/07/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que responderam à enquete acreditam ser comum casais lutarem pelo poder na relação.

Em alguns casos é possível observar uma espécie de "terrorismo íntimo" em ação. Marília, por exemplo, comentou com o marido que cantaria na festa de aniversário de casamento da amiga e ele disparou: "Quando nos conhecemos você tinha uma linda voz, pena que os anos estão te tornando meio desafinada."

Outro exemplo é o de Luiza ao ouvir o marido comentar que seria o interprete do gerente americano no dia seguinte: "Se você tivesse treinado todos esses anos talvez estivesse com a compreensão perfeita de inglês que tinha…"

Essas "derrubadas" entre casais revelam como os ressentimentos dominam a relação e eles as mantêm sem capacidade de se unirem nem de se separarem.
Encontramos com frequência relações amorosas em que há luta pelo poder.

Muitas vezes, o poder, que se mascara como amor, assume um papel bem importante na união de duas pessoas. "Estou fazendo isso para o seu bem.", é uma frase que pode significar justamente o contrário. "Nos relacionamentos com essa característica há duas pessoas preocupadas em atacar a segurança ou a autonomia uma da outra, provocando recíproca ansiedade", observa o psicoterapeuta americano Michael Miller, estudioso do tema.

Embora nenhuma das partes esteja preparada para abrir mão do relacionamento, cada uma tem como objetivo tomar o controle dele. Em sua busca de poder na relação atacam-se os pontos mais vulneráveis do parceiro (a). Usam-se ameaças, alimentam-se o medo e a dúvida, de forma a paralisar a vontade do seu oponente. Cada troca de palavras tem um significado diferente do que aparenta, numa tentativa de prolongar a batalha pelo poder.

Infelizmente há pessoas que levam a vida em comum assim, frios um com o outro, sem comunicação, talvez com frequentes explosões – como duas pessoas que se esforçam para evitar brigas "por causa das crianças" ou para não escandalizar os vizinhos, mas, acima de tudo, para manter o casamento mais ou menos intacto. Ao falarem de separação é mais uma tática de intimidação do que real intenção de se afastarem.

No terrorismo íntimo, ninguém sai vencedor. Os dois ficam ricocheteando as mútuas ansiedades, cada um aumentando a sua no processo. As precedentes táticas de terror são, em sua maior parte, relativamente polidas, as que usualmente mantêm a luta dentro dos limites do decoro da classe média.

Mas nem sempre isso ocorre – se a frustração de um casal esquentar suficientemente pode fazê-los começar a atirar coisas um no outro. Mas temos que levar em conta também que em muitos casamentos, as pessoas não se separam porque dependem um do outro emocionalmente, precisam do parceiro para não se sentirem sozinhos e para que ele seja o depositário de suas limitações, fracassos, frustrações e também para responsabilizá-lo pela vida tediosa e sem graça que levam.

Na realidade, amor e poder nunca vão funcionar bem juntos. Não é novidade que toda relação íntima deve levar em conta as necessidades de cada uma das partes, tanto para o estar juntos como para a autonomia.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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