Topo

Regina Navarro Lins

Sexualidade, apenas

Regina Navarro Lins

09/09/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

ILUSTRAÇÃO
 

Comentando a Pergunta da Semana

A grande maioria das pessoas que responderam à enquete da semana afirma que se relacionaria com uma pessoa bissexual. Essa é mais uma demonstração de que as mentalidades estão mudando.

Até a revolução sexual e o movimento feminista, as atitudes e o comportamento de homens e mulheres eram bem definidos. A expectativa da sociedade é de que as pessoas cumpram seu papel sexual, que sofre variações de acordo com a época e o lugar.

Há algumas décadas, não se admitia que um homem usasse cabelo comprido e muito menos brinco. Eram coisas femininas. As mulheres, por sua vez, não sonhavam usar calças, nem dirigir automóveis. Era masculino.

As qualidades que se enquadram nos estereótipos masculinos e femininos são facilmente observáveis. Os homens devem ser fortes, ousados, corajosos, agressivos, dominadores, competitivos, racionais, e devem perseguir o sucesso e o poder.

As mulheres devem ser submissas, ternas, dóceis, meigas, emotivas, delicadas, saber cuidar dos outros. É evidente que homens e mulheres possuem todos esses aspectos — ambos podem ser fracos ou fortes, corajosos ou medrosos —, dependendo do momento e das características que predominam em cada um, independente do sexo.

A maioria das pessoas acreditam pertencer a uma das três categorias: heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. Caso não se aceitem membros de uma categoria fixa, buscam modificações para se enquadrarem numa delas. "Acredito que essas categorias sexuais, quando usadas como rótulos, fixam na mente uma ideia que não deveria ser fixa, mas extremamente fluida. Nós só estamos encapsulados numa categoria quando deixamos que isso aconteça conosco." , diz a psicanalista americana June Singer.

A queda das barreiras dos sexos já não é novidade. Há algum tempo não são nítidas as fronteiras entre o masculino e o feminino. É praticamente impossível encontrar algo que interesse aos homens e não às mulheres, e vice-versa. No momento em que se impõe a plasticidade dos papéis sexuais, em que as mulheres podem escolher não serem mães, torna-se cada vez mais difícil determinar, de forma exata, a diferença entre o homem e a mulher, além dos aspectos anatômicos e fisiológicos.

O pesquisador americano Alfred Kinsey acredita que a homossexualidade e a heterossexualidade exclusivas representam extremos do amplo espectro da sexualidade humana. Para ele, a fluidez dos desejos sexuais faz com que para cada heterossexual exista pelo menos uma pessoa que sinta, em graus variados, desejo pelos dois sexos.

Na pesquisa feita pelo americano Harry Harlow, mais de 50% das mulheres, numa cena de sexo em grupo, se engajaram em jogos íntimos com o mesmo sexo, contra apenas um por cento dos homens. Entretanto, quando o anonimato é garantido a proporção de homens bissexuais aumenta a um nível quase idêntico.

Marjorie Garber, professora da Universidade de Harvard, que elaborou um profundo estudo sobre o tema, compara a afirmação de que os seres humanos são heterossexuais ou homossexuais às crenças de antigamente, como: o mundo é plano, o sol gira ao redor da terra.

Acreditando que a bissexualidade tem algo fundamental a nos ensinar sobre a natureza do erotismo humano, ela sugere que em vez de hétero, homo, auto, pan e bissexualidade, digamos simplesmente sexualidade.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

Blog Regina Navarro