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Regina Navarro Lins

O custo do amor romântico

Regina Navarro Lins

12/08/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae


 

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana acredita que mesmo amando muito uma pessoa é possível se interessar por outra. Entretanto, muitos continuam idealizando o amor, e acreditam que ao encontrar a "pessoa certa" nunca mais terão olhos para ninguém.

"Preciso encontrar um grande amor!" Esta afirmação é ouvida com frequência na nossa cultura. Acredita-se só ser possível estar bem vivendo uma relação amorosa. A partir do século 20, mais do que em qualquer outra época, o amor ganhou importância. As pessoas passaram a acreditar que sem viver um grande amor a vida não tem sentido.

Pensa-se no amor como se ele nunca mudasse. O amor é uma construção social, e em cada época da História ele se apresenta de uma forma. O amor romântico, pelo qual a maioria de homens e mulheres do Ocidente tanto anseiam, é calcado na idealização. Não é construído na relação com a pessoa real, que está do lado, e sim com a que se inventa de acordo com as próprias necessidades.

São várias as inverdades que o amor romântico impinge para manter a fantasia do par amoroso idealizado, em que duas pessoas se completam, nada mais lhes faltando. Entre elas estão as seguintes afirmações:

— Só é possível amar uma pessoa de cada vez;
— O amado terá todas as suas necessidades atendidas pelo outro;
— Quem ama não sente desejo por mais ninguém;
— O amado é a única fonte de interesse do outro;
— Quem ama sente desejo sexual pela mesma pessoa a vida inteira;
— Qualquer atividade só tem graça se a pessoa amada estiver presente;
— Todos devem encontrar um dia a "pessoa certa".

Além disso, o amor romântico não é apenas uma forma de amor, mas todo um conjunto psicológico — uma combinação de ideais, crenças, atitudes e expectativas. Essas ideias coexistem no inconsciente das pessoas e dominam seus comportamentos e reações. Inconscientemente, predetermina-se como deve ser o relacionamento com outra pessoa, o que se deve sentir e como reagir.

A idealização do amor tem um custo. Não é verdade que "tudo o que você precisa é de amor". Precisamos também ter um espaço individual, amigos verdadeiros, investir na carreira, etc… Ao nos concentrarmos no amor, negligenciamos inevitavelmente outras paixões, o que torna nossa vida mais limitada.

Acredito que quem ama de verdade pode se interessar por outra pessoa — afetiva e sexualmente. Acontece o tempo todo, mas a maioria das pessoas parece preferir fazer de conta que isso não existe.

Concordo com psicanalista W. Reich quando afirmou, na primeira metade do século 20, que "nunca se denunciará bastante a influência perniciosa dos preconceitos morais nessa área. E que todos deveriam saber que o desejo sexual por outras pessoas constitui parte natural da pulsão sexual, que é normal e nada tem a ver com a moral.

Se todos soubessem disso, as torturas psicológicas e os crimes passionais com certeza diminuiriam e desapareceriam também inúmeros fatores e causas das perturbações psíquicas que são apenas uma solução inadequada desses problemas."

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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