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Regina Navarro Lins

Amores múltiplos

Regina Navarro Lins

19/07/2014 09h31

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta cujo namorado tem outras duas namoradas. Ele acha que ela deveria fazer o mesmo, ou seja, não ficar presa a um único relacionamento. Sem dúvida, está aumentando o número de homens e mulheres que optam por não se fechar numa relação a dois. Um exemplo é o caso de Elaine, que atendi no consultório.

Ela é uma advogada de 34 anos, separada há três. Após alguns namoros, e muitas brigas por conta do ciúme de seus parceiros, decidiu que não teria mais nenhuma relação amorosa em que fosse exigido qualquer tipo de exclusividade.

"Em vários momentos da minha vida amei mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Mas sempre que isso acontece, você se sente na obrigação de ter que decidir entre elas. Não acho natural; não quero isso para a minha vida. Por que não podemos amar várias pessoas? Não amamos diversos amigos? Não amo meus três filhos? Cansei dessa história; aderi de corpo e alma ao poliamor. Sei que não é fácil encontrar parceiros que concordem com isso, mas estou tentando. Tenho a esperança que daqui a algum tempo as cabeças fiquem mais abertas."

Há alguns anos, na mesma semana em que ouvi o relato de Elaine, recebi o telefonema de uma repórter de uma revista semanal querendo me entrevistar sobre poliamor. São esses pequenos sinais que indicam as tendências.

Poliamor como movimento existe de um modo visível e organizado nos Estados Unidos nos últimos 25 anos, acompanhado de perto por movimentos na Alemanha e Reino Unido. Recentemente, a imprensa começou a cobrir abertamente quer o movimento poliamor em si, quer episódios que lhe são ligados. Em novembro de 2005 realizou-se a Primeira Conferência Internacional sobre Poliamor em Hamburgo, Alemanha.

No Poliamor uma pessoa pode amar seu parceiro fixo e amar também as pessoas com quem tem relacionamentos extraconjugais ou até mesmo ter relacionamentos amorosos múltiplos em que há sentimento de amor recíproco entre todas as partes envolvidas. Os poliamoristas argumentam que não se trata de procurar obsessivamente novas relações pelo fato de ter essa possibilidade sempre em aberto, mas sim de viver naturalmente tendo essa liberdade em mente.

"O Poliamor pressupõe uma total honestidade no seio da relação. Não se trata de enganar nem magoar ninguém. Tem como princípio que todas as pessoas envolvidas estão a par da situação e se sentem confortáveis com ela. A ideia principal é admitir essa variedade de sentimentos que se desenvolvem em relação a várias pessoas, e que vão para além da mera relação sexual.", explica um adepto dessa prática amorosa.

Outro praticante explica que o poliamor aceita como fato evidente que todos têm sentimentos em relação a outras pessoas que as rodeiam. Como nenhuma relação está posta em causa pela mera existência de outra, mas sim pela sua própria capacidade de se manter ou não, os adeptos garantem que o ciúme não tem lugar neste tipo de relação.

Ele garante que não é o mesmo que uma relação aberta, que implica no sexo casual fora do casamento, nem na infidelidade, que é secreta. O poliamor é baseado mais no amor do que no sexo e se dá com o total conhecimento e consentimento de todos os envolvidos, estejam estes num casamento, num ménage a trois, ou no caso de uma pessoa solteira com vários relacionamentos.

O que se conclui é que as mentalidades estão mudando em relação a amor e sexo. As relações a dois fechadas estão perdendo espaço. Mas isso não deve se tornar um modelo. Devemos fugir de modelos. Cada um escolherá a sua forma de viver, seja um longo casamento exclusivo, com alguém que também assim o deseje, ou a alternância de vários parceiros amorosos e sexuais.

Quem é jovem, ou apesar da idade não está lembrado dos anos 50 ou 60, vale recordar que pessoas separadas não eram aceitas socialmente. A separação era uma tragédia! Assim, como a moça deixar de ser virgem antes do casamento. Isso tudo mudou e muita coisa mais está mudando.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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