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Regina Navarro Lins

Dor e renascimento na separação

Regina Navarro Lins

12/07/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta que foi abandonada pelo namorado e está desesperada.

O fim de um relacionamento é tão doloroso, que muitos estudiosos consideram o sofrimento comparável em intensidade à dor provocada pela morte de uma pessoa querida. Contudo, de um jeito simples ou complicado, com raiva ou tranquilidade, o fato é que em todas as partes do mundo as pessoas se separam.

A forma de separação varia muito. Os mongóis da Sibéria adotam o óbvio ao estabelecer que "se duas pessoas não conseguem viver juntas, é melhor que vivam separadas". Entre os apaches o divórcio ocorria quando a esposa punha as roupas do marido fora de casa, sinal para ele retornar à mãe; ou então ele dizia que ia caçar e não voltava. E na velha China havia uma lei que permitia ao homem se divorciar da esposa tagarela.

Há casos de separação bem curiosos. Em março de 2006, uma egípcia pediu e obteve o divórcio em um tribunal do Cairo, alegando não suportar a falta de higiene e o mau cheiro do marido. O casal vivia junto há oito anos e morava com seus três filhos. Os juízes convocaram o marido para dar explicações, e como ele não compareceu ao tribunal, decidiram conceder o divórcio por "incompatibilidade de odores".

Geralmente, a separação inicia seu processo lentamente, na maior parte das vezes de forma inconsciente. A relação vai se desgastando e a vida cotidiana do casal deixa de proporcionar prazer. Não são raras as tentativas de desmentir o que se está sentindo, principalmente, pelas expectativas de realização afetiva depositadas na relação.

Muitas vezes, apesar de se ter uma visão clara do que está ocorrendo, adia-se qualquer tipo de decisão. "Antes de mais nada o indivíduo começa a se sentir corroído pela dúvida e pela esperança de ter interpretado mal as coisas, apesar de seu mal-estar reiteradamente confirmar a exatidão das conclusões a que chegou. Todavia, continua a adiar uma decisão definitiva, na esperança secreta de que um milagre o faça voltar aos felizes tempos em que eram amantes e companheiros de vida.", diz o psicólogo italiano Edoardo Giusti.

Nem sempre o parceiro satisfaz ou preenche as necessidades afetivas e sexuais do outro, mas isso não é levado em conta. A separação é dolorosa porque impõe o rompimento com a fantasia do par amoroso idealizado, além de abalar a autoestima e exacerbar as inseguranças pessoais.

Da mesma forma que a criança pequena se desespera com a ausência da mãe, o adulto, quando perde o objeto do amor — seja porque foi abandonado ou porque o abandonou —, é invadido por uma sensação de falta e de solidão.

A pessoa se sente desvalorizada, duvidando de possuir qualidades. Surgem medos variados como o de decepcionar os parentes e os amigos, fazer os filhos sofrerem, ficar sozinho, ter problemas financeiros, e o mais ameaçador: o de nunca mais ser amado.

Quando um dos parceiros comunica ao outro que quer se separar, aquele que de alguma forma não deseja isso pode sofrer num primeiro momento, mas depois de algum tempo concluir que foi a melhor coisa que poderia ter lhe acontecido. Isso é frequente.

A aquisição de uma nova identidade, totalmente desvinculada da do ex parceiro, abre possibilidades de descobertas de si próprio e do mundo. A oportunidade de crescimento e desenvolvimento pessoal podem gerar um entusiasmo pela vida.

Não dá para comparar a dor que uma separação provoca hoje com a de 50 anos atrás. Agora existe uma busca generalizada de desenvolver as potencialidades pessoais. Alívio e forte sensação de renascimento podem surgir após a separação.

Alguns ingredientes são importantes para que isso ocorra: atividade profissional prazerosa, vida social interessante, amigos de verdade, liberdade sexual para novas experiências e, principalmente, autonomia, ou seja, não se submeter à ideia de que estar só é sinônimo de solidão ou desamparo.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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