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Regina Navarro Lins

O que não vale na cama

Regina Navarro Lins

15/04/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando a Pergunta da Semana

Para a grande maioria das pessoas que responderam à enquete da semana há algo no sexo que não admitem de jeito nenhum. Lembrei-me então da queixa de uma paciente a respeito do namorado:

"Às vezes fico com receio de que meu namorado me ache muito sem vergonha. Ele é contido, por isso o sexo que fazemos é sempre igual, tipo papai-mamãe. Tenho várias fantasias e gostaria de realizá-las com ele, mas acho que isso nunca vai acontecer. Adoraria, por exemplo, que ele me puxasse pelos cabelos e me jogasse na cama. Podia até me dar uns tapas e depois transar bem gostoso. Mas como dizer isso a ele? Ele acredita que no sexo só pode existir carinho…"

O sexo sempre teve destaque na história da humanidade. Dependendo da época e do lugar, foi glorificado como símbolo de fertilidade e riqueza, ou condenado como pecado. Durante muitos séculos foi considerado abominável. Com muita condescendência foi permitido no casamento, e mesmo assim, só para a procriação.

No ato sexual, uma única posição era permitida: o homem estendido sobre a mulher, ela deitada de costas de pernas abertas, a famosa papai-e-mamãe. No século 15, havia a crença de que quando as mulheres ficavam por cima do homem enlouqueciam, e se ficassem na posição de quatro, os filhos nasceriam com problemas físicos. Claro que hoje ninguém mais acredita nisso, mas o sexo como algo perigoso e sujo ficou no inconsciente de todos.

Quando eu era criança ouvia histórias sobre os homens e suas amantes que muito me impressionavam. Essas mulheres deviam ter alguma coisa especial, porque ganhavam dos homens tudo o que desejavam: apartamentos, joias, casacos de pele. E as mães de família respeitáveis faziam comentários com uma ponta de admiração e inveja.

Mais tarde me explicaram que o segredo para elas conseguirem tantos presentes residia no que faziam na cama. Eu ficava imaginando que coisas deveriam ser porque ninguém revelava mais do que isso. A única explicação era a de que uma mulher "direita" jamais se comportaria assim. Mas afinal, o que é proibido fazer na cama?

A descoberta da pílula anticoncepcional mudou muito as mentalidades. Pela primeira vez na história o sexo se dissociou da procriação, podendo se aliar ao prazer. E as pessoas passaram a desenvolver cada vez mais o prazer sexual. Entretanto, encontramos ainda muita gente com inibições, censuras e tabus.

Quantos desejos e fantasias são reprimidos por fugirem do padrão estabelecido? Quantos homens limitam seu próprio prazer e o de suas namoradas ou esposas, se obrigando a procurar mulheres fora de casa somente para ter prazer? E as mulheres que são censuradas ou censuram qualquer tentativa de escapar da monotonia das regras estabelecidas?

As práticas sexuais que de dois mil anos para cá foram alvo de grande preconceito são sexo oral, sexo anal e masturbação mútua. Entretanto, hoje, por estarmos vivendo um momento de profunda mudança das mentalidades, se observam nas pessoas muitas dúvidas e conflitos quanto a práticas sexuais propostas pelos parceiros (as), como sexo a três, swing, transa com uma terceira pessoa diante do outro, sexo grupal…

Contudo, penso que algumas coisas nunca vão valer na cama: constranger o outro, insistir para que faça algo que não tem vontade. No sexo só vale o que é prazeroso para os dois. Esse é um critério que não tem erro e pode ser adotado em qualquer época. Mesmo porque, qualquer coisa que se faça por obrigação ou só para agradar tem seu preço cobrado depois, e pode ser muito alto.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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