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Regina Navarro Lins

Ela é bem mais velha...e isso não tem a menor importância!

Regina Navarro Lins

30/03/2013 07h00

Rapaz namorando mulher mais velha

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta de 31 anos que namora uma mulher mais velha. Ele está inseguro nessa relação. Isso não é à toa; muita gente considera inadmissível a relação amorosa de uma mulher de 50 com um homem de 20, mas ninguém acha estranho quando o homem tem 30 anos mais do que a mulher.

Quando nascemos, encontramos um mundo em que os padrões de comportamento masculino e feminino já estão claramente definidos. Espera-se que homens e mulheres desempenhem bem os papéis que lhe foram determinados, e se comportem de acordo com as regras do grupo em que vivem. Para isso, com o passar dos anos, a cultura de cada época e lugar vai sendo assimilada sem que se perceba.

Até pouco tempo atrás, quando a mulher era totalmente dependente do homem, não faltavam argumentos para convencê-la dos perigos de se relacionar com homens mais jovens. Dizia-se que se ela fosse mais velha, o marido logo perderia o interesse, ou seja, ela se tornaria um objeto sem valor e seria deixada de lado. Assustada, a maioria nem ousava arriscar e passivamente se submetia ao modelo imposto. Embora hoje a diferença de idade entre o homem e a mulher seja tema polêmico, por mais incrível que pareça ainda é regido por normas instituídas há milhares de anos.

Durante um longo período, a mulher foi considerada mercadoria que podia ser comprada, vendida ou trocada. Era comum um acordo comercial entre o pai de uma moça e o homem que desejasse comprá-la para tê-la como esposa. A principal função dela era dar ao marido o maior número possível de filhos, para que estes o ajudassem futuramente no trabalho. Como a mulher tem um período limitado de procriação, só as muito jovens podiam ter tantos filhos. Era natural então que o homem fosse bem mais velho.

Agora, com métodos contraceptivos eficazes, o homem já não controla a fecundidade da mulher, que cada vez mais alcança autonomia financeira. Mas valores repetidos durante milênios acabam sendo vistos como verdades absolutas. Só mesmo a ausência de reflexão poderia explicar tanta gente aceitando com tranquilidade que um homem se case com uma mulher bem mais jovem, sem nada contrapor e até valorizando-o por isso, ao mesmo tempo em que se critica a mulher quando faz a mesma coisa.

Apesar de toda a liberação dos costumes, essa censura pode ser percebida por meio de comentários e deboches, que tentam desqualificar o que existe entre o casal. Isso sem falar nas mulheres que, reprimindo seus desejos, se privam de experimentar intensas emoções, preocupadas que estão com a aceitação social.

Pensar e viver de forma diferente daquela a que se está acostumado causa ansiedade e medo. O novo assusta. Contudo, é necessário ter mais coragem e discutir os valores que são transmitidos sem ser contestados, mas que sempre geraram sofrimento. A diferença de idade no amor é apenas um exemplo dos inúmeros preconceitos que estão arraigados às pessoas, limitando inteiramente suas vidas.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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